domingo, 13 de maio de 2007

Procura-se um amigo "invertido"

Procura-se um amigo que não goste de poesia, noitada pássaros e curtição.
Não goste da lua, do sol, do canto dos ventos, das canções e da brisa.
Não deve ter um grande amor por alguém e não sentir falta de não ter esse amor .
Não deve respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Não deve guardar segredo nem se sacrificar, nem é preciso.
Procura-se um amigo que não seja de primeira mão, pode ser de segunda.
Pode até ter sido enganado, pois amigo e pra ser enganado.
Procura-se um amigo não é preciso que seja puro. Ah! Deve ser vulgar.
Não deve ter um ideal ou medo de perdê-lo.
Não deve sentir o vácuo que isso deixa.
Não deve ter ressonância humana.
Seu principal objetivo não deve ser o amigo.
Não deve sentir pena das pessoas tristes, e nem compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo que não goste dos mesmos gostos e que não se comova quando chamado de amigo.
Que não saiba conversar de coisas simples.
Que não goste orvalho e de grandes chuvas, e de recordar coisas da infância.
Procura-se um amigo que não conte, o que viu de belo e triste durante o dia.
Procura-se um amigo que não diga que vale a pena viver porque já se tem um amigo.
Procura-se um amigo pra não se parar de chorar.
E ficar debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que não nos bata no ombro nem sorrindo ou chorando.
E que não nos chame de amigo pra se ter consciência.
De que se morre não se vive.
Ah! Ele não deve gostar de caminhos desertos, ruas molhadas e poças d´água.
De beira de estrada, de mato depois da chuva e deitar no capim molhado, sob o sol da tarde quente.

Resumindo ele sempre enganou, mas nunca gostou de nada.
Ele finge que gosta.
E nós fingimos que acreditamos.


A radiografia do âmago de uma pessoa amarga.

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