O ônibus Rápido Oeste entrou no estacionamento do restaurante Rio Dalva e parou.O motorista veio até o corredor do ônibus e anunciou uma parada de vinte minutos.
- Para os passageiros de Barretos, fim de viagem queiram descer, por favor, e obrigado.
O posto ficava na entrada da cidade a três quilômetros. Havia quatro passageiros para a cidade e entre eles uma bela mulher de aproximadamente vinte e oito anos. Ela portava uma mala e uma frasqueira, seu porte e sua beleza chamava a atenção de todos.
Entrou no restaurante ocupou uma mesa e pediu um refrigerante, pois o calor estava sufocante. Na mesa ao lado havia um homem que discretamente a observava. Era um tipo de porte altivo cabelos ligeiramente grisalhos vestido com roupas de linho claro, próprias para aquele calor, podia se dizer um homem charmoso.O garçom serviu a moça, ela acendeu um cigarro e fumando saboreava o refrigerante. Quando terminou, acenou para o garçom que prontamente a atendeu, ela então perguntou como fazer para conseguir um táxi.
- Posso ligar para a cidade e chamar um, respondeu ele.
Ela acentiu e ele foi até o telefone, logo voltou dizendo que o táxi ia demorar meia hora. Ela sorriu contrariada, mas não tinha o que fazer, pagou a conta e se pôs a esperar. Foi quando o homem ao lado levantou, aproximou-se e depois de se apresentar, ofereceu uma carona, pois ele morava na cidade. Ela aceitou, mas perguntou como ficaria o táxi.
- Deixe que eu resolvo isso.
Foi até o garçom e disse qualquer coisa, a seguir o garçom foi até a moça apanhou a mala e levou até o carro. Era um carro importado que parecia ter saído da loja, a moça ficou impressionada.
Ela entrou no carro e se acomodou, ele, então, perguntou onde a deixava, ela respondeu que ia para o bairro Recanto das Flores, na Chácara Arco-Íris.Ele, homem experiente, já tinha desconfiado que ela era uma meretriz, aquele bairro era a zona de meretrício. A Chácara das Flores pertencia a uma cortesã de nome Joana que no passado foi uma bela mulher também meretriz, sua casa só hospedava mulheres de classe e de fino trato e era freqüentada por ricos fazendeiros, comerciantes e onde os jovens ricos davam iniciação a sua vida sexual. No passado a zona ficava em um bairro próximo ao centro, mas com o crescimento da cidade houve necessidade de afastá-la.
Quando era na zona central, as casas eram identificadas com luzes vermelhas expostas na frente. Com a pressão das senhoras beatas a Câmara e o Prefeito aprovaram um projeto para afastar a zona para a periferia. Escolhido o local e aprovado pela comunidade, a Prefeitura construiu as casas e um posto de saúde, enfim, toda a infra-estrutura para a segurança dos futuros freqüentadores. Depois de tudo pronto, a prefeitura fez uma permuta com as proprietárias, fizeram a mudança e o problema ficou resolvido. É neste cenário que vamos encontrar aquela bela mulher e o guapo cinqüentão. No trajeto, trocaram poucas palavras pois havia um clima de constrangimento entre os dois .
Quando estacionou em frente à chácara ele fez menção de descer para abrir a porta e pegar a mala, mas ela se interpôs
- Não, por favor, não desça.
Ele ficou estático se sentindo como uma criança que foi flagrada furtando um doce da vitrine. Ela desceu, pegou a mala rodeou o carro e foi até a janela, estendeu-lhe a mão, agradeceu e disse "meu nome é Gilda", afastou-se e adentrou no corredor da chácara, que de chácara só tinha o nome. Era uma bela casa com um vasto terreno gramado, cercado por pinheiros e um muro relativamente alto. No fundo uma piscina bem dimensionada, enfim, um refúgio de prazer. Por alguns segundos ele ficou ali parado, sua vontade era descer do carro seguir aquela mulher e com ela fazer um programa, mas logo caiu em si deu partida no carro e foi embora. Nos dias que se passaram ele não conseguia tirar aquela mulher do pensamento.
Um casamento de sucesso
Nosso personagem cujo nome é Roberto apareceu na cidade no começo dos anos 50 e alugou um apartamento em um hotel. Depois de alguns dias, andou pela cidade e visitou fazendas pela região. Depois conversou com o gerente do hotel e disse que ia se estabelecer na cidade. Na manhã seguinte saiu à procura de um imóvel para alugar, pois pretendia montar um escritório de compra e venda de gado – e a região era de grandes fazendeiros criadores de gado. Corretor era uma atividade nova, mas essencial para grandes negócios. Ele encontrou duas salas no centro, alugou e com anuência do proprietário abriu uma comunicação entre as paredes e colocou uma porta para maior privacidade.
Contratou uma secretária e colocou seu logotipo na porta. Isto feito foi até o jornal e a rádio local e contratou um anúncio, agora, era só esperar. Ele tinha certeza do sucesso, pois era pioneiro do negócio na cidade e expert no assunto.Logo apareceu interessados em saber como funcionava o negócio de corretagem pois eram leigos no assunto. Depois das primeiras experiências e como os negócios deram bom resultado – a afluência de clientes aumentou – ele passou então a anunciar nas rádios e jornais de cidades vizinhas.Fazendeiros de toda região passaram a ser seus clientes. Ele pôs a se corresponder com matadouros e frigoríficos de S. Paulo, Rio, Campinas e de várias cidades de grande porte. Na cidade de Barretos, angariou simpatia e respeito na alta sociedade e dizia sentir-se como cidadão Barretense. Foi quando recebeu convite para se associar ao Tênis Clube de Barretos, o que ele prontamente aceitou dizendo que era uma honra. No dia que foi formalizar o ingresso no clube veio a baila um assunto do qual ele não havia comentado, sua origem, formação e a família, pormenor que não o preocupava.
Ele era de Campos, Estado do Rio de Janeiro, era formado em advocacia tributária – função que exerceu por pouco tempo, pois descobriu que sua vocação era o campo –, trabalhou com o pai que era cafeicultor, mas sua paixão era a pecuária. Por isso viajou para a Austrália para aprender o que pudesse sobre criação de gado e também sobre corretagem em grande escala, no que a Austrália era pioneira.Bastou um ano para ele saber de todos os meandros da atividade e adquirir prática no campo. Agora, ali estava com seu negócio a pleno vapor. Mas sua ambição ia além, seu objetivo era ele mesmo ser criador e implantar a criação de gado confinado, sistema que abriria comércio para o exterior, principalmente, para a Europa. Com o tempo passou a freqüentar a nata da sociedade e foi num desses eventos que conheceu a jovem filha única do maior criador de gado da região, homem que apesar de não ter cargo, comandava todos os acontecimentos políticos de Barretos e região.
Depois de alguns encontros iniciou entre eles um namoro que foi aprovado pela família da moça, pois viam naquele rapaz um futuro brilhante. Ela não era um exemplo de beleza mas compensava com seu comportamento independente e ativo em relação aos negócios do pai, a mulher ideal para quem tinha ambição. Depois de algum tempo, ele confidenciou ao pai dela que estavam planejando o casamento, com seu consentimento, é claro, e para isso havia pleiteado um empréstimo no Banco do Brasil, local pois pretendia iniciar seu próprio negócio. Estava só esperando a resposta do banco.O pai concordou com seus planos. À noite, em casa, reunido com os dois irmãos, o pai conversou sobre o assunto e com a anuência deles soube qual providência tomar.
Na manhã seguinte, dirigiu-se ao banco e numa reunião com o gerente deu aval ao empréstimo. Quando o rapaz soube, procurou o futuro sogro agradeceu dizendo:
- Agora vou por a mão na massa.
Por intermédio do banco, soube de uma fazenda de porte médio que estava sob hipoteca e à venda. Era ideal para seu propósito. Convidou o futuro sogro par conhecer a propriedade, pois queria sua opinião de homem experiente no ramo. Eles foram ao local e depois de percorrerem a fazenda, aprovou e disse.
- O que faltou aqui foi uma boa administração. Na manhã seguinte, o rapaz foi até o banco e fechou o negócio.
À tarde apanhou a namorada e a levou para conhecer a fazenda, ela gostou do lugar e começaram a fazer planos do que iam fazer ali. O rapaz procurou um expert em projetar instalações para fazenda e foram até o local, depois de saber tudo o que queria, o empreiteiro passou tudo para a prancheta e também a reforma da casa que ia ser ocupada por um administrador, pois o casal ia residir na cidade.
Roberto, então, pediu ao empreiteiro uma previsão de tempo para as obras ficarem prontas. Depois de calcular tudo o que era necessário, pois seria uma obra fora do contexto – uma fazenda para criação de gado confinado – deu três meses. Depois de acertar com a namorada, marcaram o noivado para um mês e mais cinco para o casamento, além de um mês de lua de mel entre a Austrália e a Europa. Comunicaram a família que recebeu a noticia com satisfação. O rapaz, então, disse que ia providenciar a construção da casa para quando retornassem. O futuro sogro, então, disse que a casa ia ser seu presente.
- Vou convocar um projetista e com ele vocês vão escolher como querem a casa e depois vão escolher os móveis para quando chegarem tudo estar em ordem.
Depois de projetada, a planta foi para o construtora que prometeu a casa no prazo programado para o retorno do casal. No prazo combinado, a fazenda ficou pronta, eles ficaram noivos e na data marcada aconteceu o casamento. A festa foi realizada na casa do sogro com a presença dos pais do rapaz que estavam felizes e orgulhosos com o progresso do filho. Depois da festa, a viagem para São Paulo e o embarque para o exterior, nesse ínterim em Barretos a obra da casa estava a todo vapor, em fase de acabamento.Faltando quinze dias para o retorno do casal, a casa ficou pronta. Deram, então, o início à decoração. A sogra contratou uma firma para decorar a casa com os móveis e eletrodomésticos que o casal havia escolhido. A escolha de lustres cortinas e outros adereços ficou a critério da sogra, assessorada pela decoradora.
No retorno do casal, houve uma festa de recepção, organizada pelos amigos e parentes, e nos dias vindouros começou avida nova.Na ausência do casal correu tudo normal no escritório, pois a secretária era muito competente e os contratos feitos já tinham sido adiantados por Roberto. A partir daí, além do escritório, ele começou a dar andamento no negócio a que havia se proposto, a esposa também se integrou no trabalho. E como ele havia pensado, dentro de pouco tempo o negócio passou a dar bons resultados.
Uma mudança profunda
Com o passar dos anos veio o crescimento, o aumento da área de produção, a construção de um matadouro e a instalação de um frigorífico moderno. A seguir os contratos para exportação de carne a granel, o sonho tornou-se realidade para júbilo do casal. Mas havia um fator que obstava a felicidade do casal, a mulher era infértil e não havia nada que a medicina pudesse fazer. Para compensar esta frustração ela se lançou no trabalho de maneira frenética e para complicar aconteceu o falecimento do pai, com um colapso fulminante. Este fato gerou uma mudança na esposa que passou a ter um comportamento irascível.Ela assumiu os negócios do pai, pois havia sido preparada para isso.
O tempo foi passando e o relacionamento do casal foi se desgastando, pois o trabalho da mulher virou obsessão e quando o marido tentava opinar ela dizia que ele já tinha seu negócio e ela era bastante competente para gerir o seu sozinha. O tempo passou e aconteceu o falecimento da sogra. Ele notou que a mulher não se abalou e que o ocorrido parecia um fato corriqueiro. E assim o tempo passava. Os negócios geridos por ela iam de vento em popa, ela havia assimilado o pai era uma grande administradora.
Era admirada e querida na cidade, além dos negócios, dirigia a associação das senhoras católicas que assistia doentes, idosos, pobres e crianças carentes, com quem era muito amável, mas no convívio com o marido tornou-se intratável. O casamento na intimidade havia falido, a relação com o marido era só para manter as aparências. Certa ocasião, ele mencionou a possibilidade do divórcio. A mulher explodiu dizendo que se ele mencionasse isso outra vez ela o mataria, revelando uma agressividade que até o momento ele desconhecia.Como o negócio de gado confinado progrediu. Roberto contratou um jovem, recém formado em engenharia pecuária para assessorá-lo no escritório, e passou ser mais assíduo na fazenda.
Os anos passaram, ele com 52 anos ela 47. A vida do casal era apática, a não ser nos negócios, pois ambos continuavam com a mesma disposição de outrora. E foi nesse clima que ele teve o encontro com aquela mulher que abalou seu emocional.Depois de muito pensar, resolveu ter com ela um contato telefônico. Ligou, então, para a chácara se identificou e questionou um possível encontro. Ela concordou e combinaram o encontro no restaurante do posto, pois por motivos óbvios ele não podia se expor na cidade e ela, mulher experiente, não pôs obstáculos. Do restaurante foram para uma cidade a 40 quilômetros, onde em um hotel tiveram uma aventura amorosa. Depois da primeira, tiveram várias outras.
Ele generoso com presentes e dinheiro e ela com seu corpo e sua beleza. Mas havia um porém. Essas mulheres não ficam muito tempo em uma cidade. Quando comunicou que ia partir, teve uma surpresa, pois ele declarou que estava apaixonado e propôs montar uma casa para ela em uma cidade próxima para que ele pudesse visitá-la e, em contra partida, proporcionaria tudo que ela precisasse, inclusive, um carro. Ela teria toda a liberdade que quisesse, menos com outros homens, claro.
Ela refletiu e pediu um tempo para pensar, pois era um passo muito sério e ela não queria ser magoada e nem magoar ninguém. Ela combinou que iria passar um tempo na casa de parentes no litoral, que não sabiam de sua atividade. Deixou o endereço de uma casa da cidade de Viradouro e em um mês estaria lá . Durante sua estada no litoral refletiu sobre os prós e contras de uma resposta positiva e na possibilidade de deixar aquela vida, tinha planos para o futuro mas ainda não estava preparada financeiramente para iniciar outra vida. Sabia que um dia teria que tomar uma decisão, agora, seria um risco, mas resolveu enfrentar, sabia que homem casado era um problema, mas ele inspirava confiança. A resposta seria sim.
Na data marcada, os dois se encontraram no local combinado. Depois do acerto de ambas as partes passaram a por em prática os planos para o futuro, em um mês ajustaram tudo, uma casa em Pitangueiras, cidade a quarenta quilômetros, um carro e tudo mais que fosse necessário para uma casa.Nos dias que se seguiram sempre que podia ia visitá-la e ficou patente que ele estava apaixonado e quando viajava para as cidades grandes dava um jeito de levá-la junto. Com a felicidade fora, o clima em casa se tornava cada dia mais insuportável, mas uma separação estava fora de questão, ele havia criado raízes na cidade e um escândalo seria desastroso, pois tudo que ele construiu estava ali, isto o atormentava.
Foi nessa época que houve a necessidade de uma pintura na sua casa. Para isso ele contratou o melhor pintor da cidade que com uma equipe ia executar o serviço, era o mesmo pintor que trabalhou durante a construção. Mas para que o serviço fosse executado, o casal se hospedou em um hotel para não ter o desconforto de uma casa em reforma. Durante a execução do serviço Roberto ia até a casa para ver o que estava sendo feito e trocava opinião com o pintor que era um sujeito afável e bem falante. Foi numa dessas idas que o pintor avisou que precisava se ausentar durante três dias, pois precisava levar seu filho de dez anos a São Paulo pois estava fazendo tratamento no Hospital das Clínicas de uma doença rara.
O pessoal que ia ficar trabalhando era competente e dariam conta, sem atrasar o serviço afinal era só três dias. Roberto ficou curioso e perguntou por que as Clínicas e não outro hospital.
- O hospital é publico e tem o recurso para o tratamento”, respondeu o pintor.
- A cada dois meses tenho que levar ele para exames e isso está minando minhas economias, tenho planos de mudar para São Paulo, pois como profissional que sou não terei dificuldades para me adaptar e facilitaria o tratamento. Pus minha casa à venda, mas a oferta máxima que consegui foi 50 por cento do valor.
E num desabafo de desatino disse que estava disposto a fazer qualquer coisa para resolver a situação, até matar se preciso. E com esse desabafo encerrou-se aquele diálogo, o comentário não agradou nada ao dono da casa. Depois do serviço pronto, o casal voltou para casa e tudo voltou à rotina, a não ser pelas discussões, pois as saídas do marido, embora a vida conjugal já não existisse, irritava a mulher que não poupava cenas de histeria. Ele já não encontrava mais desculpas para suas saídas.
Foi após um destes entreveros que começou a brotar em sua mente um plano sinistro. Com o argumento de um serviço na fazenda que ele procurou o pintor, que se prontificou a ir a sede para fazer um orçamento. Durante o trajeto ele perguntou sobre como ia o garoto e se havia resolvido o problema da venda da casa. O pintor respondeu que estava tudo pendente a espera de um comprador pelo preço justo e que, com a demora, seu problema estava aumentando. Quando chegaram à entrada da fazenda ele passou direto, a dois quilômetros parou em um posto-restaurante, encostou o carro e convidou o pintor para descer, pois queria falar com ele. Entraram, ele procurou uma mesa afastada e pediu duas água minerais.
- É o seguinte, o que vou falar com você concorde ou não, não deve sair daqui”, disse e esperou pela reação do outro.
Ele ficou olhando sem nada entender e respondeu:
- Está bem pode falar.
- Lembra quando desabafou e disse que estava disposto a tudo, até matar se preciso fosse para resolver seu problema?, parou e ficou esperando pela reação do outro. O pintor ficou olhando para ele sem nada dizer, que continuou:
- Se está disposto, tenho a solução para seu problema. Preciso que você mate alguém, para isso pago a quantia para você ir para São Paulo comprar uma casa e durante algum tempo se manter sem trabalhar. Dou tempo para você pensar desde que não seja muito e lembre-se se esta conversa sair daqui, nego tudo e ninguém vai acreditar em você.
Levantou-se e convido o pintor a ir embora. Saíram, entraram no carro e partiram. No trajeto de volta não trocaram uma palavra. Ao deixá-lo na cidade disse:- Quando resolver o que fazer, sim ou não entre em contato. Passada uma semana, ao sair de casa e virar uma esquina Roberto viu o pintor de bicicleta que discretamente acenou para ele e apontou para a saída da cidade, ele dirigiu um quilômetro, parou o carro e esperou. Logo o pintor chegou e disse vá até a represa que vou até lá pra conversar.
Ele dirigiu até a represa e esperou, pouco tempo depois chegou o pintor, ele encostou a bicicleta ao lado do carro e disse, marque um lugar e hora para gente combinar, eu topo fazer o serviço. Roberto então marcou hora data e local, ligou o carro e foi embora. No dia marcado, à noite, os dois se encontraram na saída da cidade e colocaram a bicicleta no porta-malas. Pegaram a estrada e foram até um posto-restaurante onde Roberto estacionou o carro e entraram, sentaram em um lugar afastado e pediram uma bebida.O rapaz tirou do bolso uma caderneta e fingiu estar anotando alguma coisa enquanto conversavam. Ele, então, explicou que a pessoa em questão era sua esposa.
- Não vou entrar em detalhes, pois quanto menos você souber melhor. Já planejei tudo e vou explicar como deve ser feito. Toda sexta feira ela participa da reunião das senhoras católicas. Sai de casa às oito horas e volta entre dez e meia e onze horas. Você vai ficar na espreita, quando ela sair você entra na casa, vou lhe dar as chaves do portão e da porta. Depois que entrar feche o portão e a porta não se esqueça de passar a chave. Não acenda as luzes, vou lhe dar uma lanterna de facho direto, para a claridade não se espalhar, não vai ser difícil, pois você conhece a casa. Se quiser espere um tempo na sala para relaxar, pois quando ela chegar você vai ouvir o barulho do portão e do carro. A seguir entre no quarto de hóspedes e se esconda embaixo da cama, pois ela é alta e tem espaço para uma pessoa. A colcha vai cobrir a visão se ela entrar no quarto, mas isto nunca acontece. Fique atento pois entre tomar banho e se vestir para dormir ela gasta meia hora.
Depois que ela apagar as luzes, espere algum tempo, ela dorme rápido e tem o sono pesado, sei por que testei várias vezes. A seguir você sai debaixo da cama e acende a lanterna, proteja o facho de luz com a mão e entra no quarto, bem de perto dê um tiro na cabeça e descubra o corpo até a altura da cintura e acenda o abajur para parecer que ela acordou durante o roubo e foi baleada, dê outro tiro no peito para confirmar. A seguir, vá até o quarto de vestir que você conhece, abra várias gavetas e espalhe o conteúdo pelo chão. Na gaveta da penteadeira tem um estojo de jóias, deixe-o aberto e leve as jóias. Depois eu apanho. Você estará usando luvas o tempo todo desde o portão. Ao sair não feche a porta com a chave, mas o portão sim, vão pensar que pularam o muro e que ela esqueceu de passar a chave na porta. Também vou trazer um pé de cabra para confundi-los. Quando entrar na casa deixe-o perto da porta e só para confundir não o use.Antes de sair na rua, observe se não tem ninguém à vista, vá até a represa jogue o revólver e as chaves na água, bem longe da margem, onde é bastante fundo. Vá para sua casa e aguarde, dentro de uma semana entro em contato para fazer o acerto.
Este contato foi feito na terça-feira, o serviço seria feito na sexta. Na quarta-feira à noite o pintor recebeu a arma, chaves luvas e o pé de cabra. Na quinta-feira pela manhã Roberto viajou para São Paulo, pois tinha contratos para formalizar e só voltaria no sábado à tarde de táxi aéreo. Os contratos eram reais, pois ele havia planejado tudo. No sábado às 16 horas o monomotor deslizou pela pista do aeroporto.Roberto desceu do avião, o carregador apanhou a mala e foram para o corredor de saída.
Quando entrou no saguão deparou com o delegado e dois investigadores. O delegado se adiantou e deu voz de prisão, ele tentou esboçar uma reação, mas quando olhou para fora do aeroporto viu o carro da mulher e ela no volante. Aí desmoronou, foi algemado e levado para o camburão.O que aconteceuO pintor fez uma parte do que foi planejado só que para ter coragem se embebedou antes de ir para a casa e como havia dormido mal na noite anterior, devido a tensão, adormeceu embaixo da cama. Ele deve ter se mexido, pois deixou um pé à mostra e quando a mulher chegou, ao passar em frente do quarto viu o pé. Ela foi até a casa vizinha e chamou a polícia.
Epílogo: Casamento quando errado agüente calado, ou vá viver vendo o sol nascer quadrado.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
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