O ônibus Rápido Oeste entrou no estacionamento do restaurante Rio Dalva e parou.O motorista veio até o corredor do ônibus e anunciou uma parada de vinte minutos.
- Para os passageiros de Barretos, fim de viagem queiram descer, por favor, e obrigado.
O posto ficava na entrada da cidade a três quilômetros. Havia quatro passageiros para a cidade e entre eles uma bela mulher de aproximadamente vinte e oito anos. Ela portava uma mala e uma frasqueira, seu porte e sua beleza chamava a atenção de todos.
Entrou no restaurante ocupou uma mesa e pediu um refrigerante, pois o calor estava sufocante. Na mesa ao lado havia um homem que discretamente a observava. Era um tipo de porte altivo cabelos ligeiramente grisalhos vestido com roupas de linho claro, próprias para aquele calor, podia se dizer um homem charmoso.O garçom serviu a moça, ela acendeu um cigarro e fumando saboreava o refrigerante. Quando terminou, acenou para o garçom que prontamente a atendeu, ela então perguntou como fazer para conseguir um táxi.
- Posso ligar para a cidade e chamar um, respondeu ele.
Ela acentiu e ele foi até o telefone, logo voltou dizendo que o táxi ia demorar meia hora. Ela sorriu contrariada, mas não tinha o que fazer, pagou a conta e se pôs a esperar. Foi quando o homem ao lado levantou, aproximou-se e depois de se apresentar, ofereceu uma carona, pois ele morava na cidade. Ela aceitou, mas perguntou como ficaria o táxi.
- Deixe que eu resolvo isso.
Foi até o garçom e disse qualquer coisa, a seguir o garçom foi até a moça apanhou a mala e levou até o carro. Era um carro importado que parecia ter saído da loja, a moça ficou impressionada.
Ela entrou no carro e se acomodou, ele, então, perguntou onde a deixava, ela respondeu que ia para o bairro Recanto das Flores, na Chácara Arco-Íris.Ele, homem experiente, já tinha desconfiado que ela era uma meretriz, aquele bairro era a zona de meretrício. A Chácara das Flores pertencia a uma cortesã de nome Joana que no passado foi uma bela mulher também meretriz, sua casa só hospedava mulheres de classe e de fino trato e era freqüentada por ricos fazendeiros, comerciantes e onde os jovens ricos davam iniciação a sua vida sexual. No passado a zona ficava em um bairro próximo ao centro, mas com o crescimento da cidade houve necessidade de afastá-la.
Quando era na zona central, as casas eram identificadas com luzes vermelhas expostas na frente. Com a pressão das senhoras beatas a Câmara e o Prefeito aprovaram um projeto para afastar a zona para a periferia. Escolhido o local e aprovado pela comunidade, a Prefeitura construiu as casas e um posto de saúde, enfim, toda a infra-estrutura para a segurança dos futuros freqüentadores. Depois de tudo pronto, a prefeitura fez uma permuta com as proprietárias, fizeram a mudança e o problema ficou resolvido. É neste cenário que vamos encontrar aquela bela mulher e o guapo cinqüentão. No trajeto, trocaram poucas palavras pois havia um clima de constrangimento entre os dois .
Quando estacionou em frente à chácara ele fez menção de descer para abrir a porta e pegar a mala, mas ela se interpôs
- Não, por favor, não desça.
Ele ficou estático se sentindo como uma criança que foi flagrada furtando um doce da vitrine. Ela desceu, pegou a mala rodeou o carro e foi até a janela, estendeu-lhe a mão, agradeceu e disse "meu nome é Gilda", afastou-se e adentrou no corredor da chácara, que de chácara só tinha o nome. Era uma bela casa com um vasto terreno gramado, cercado por pinheiros e um muro relativamente alto. No fundo uma piscina bem dimensionada, enfim, um refúgio de prazer. Por alguns segundos ele ficou ali parado, sua vontade era descer do carro seguir aquela mulher e com ela fazer um programa, mas logo caiu em si deu partida no carro e foi embora. Nos dias que se passaram ele não conseguia tirar aquela mulher do pensamento.
Um casamento de sucesso
Nosso personagem cujo nome é Roberto apareceu na cidade no começo dos anos 50 e alugou um apartamento em um hotel. Depois de alguns dias, andou pela cidade e visitou fazendas pela região. Depois conversou com o gerente do hotel e disse que ia se estabelecer na cidade. Na manhã seguinte saiu à procura de um imóvel para alugar, pois pretendia montar um escritório de compra e venda de gado – e a região era de grandes fazendeiros criadores de gado. Corretor era uma atividade nova, mas essencial para grandes negócios. Ele encontrou duas salas no centro, alugou e com anuência do proprietário abriu uma comunicação entre as paredes e colocou uma porta para maior privacidade.
Contratou uma secretária e colocou seu logotipo na porta. Isto feito foi até o jornal e a rádio local e contratou um anúncio, agora, era só esperar. Ele tinha certeza do sucesso, pois era pioneiro do negócio na cidade e expert no assunto.Logo apareceu interessados em saber como funcionava o negócio de corretagem pois eram leigos no assunto. Depois das primeiras experiências e como os negócios deram bom resultado – a afluência de clientes aumentou – ele passou então a anunciar nas rádios e jornais de cidades vizinhas.Fazendeiros de toda região passaram a ser seus clientes. Ele pôs a se corresponder com matadouros e frigoríficos de S. Paulo, Rio, Campinas e de várias cidades de grande porte. Na cidade de Barretos, angariou simpatia e respeito na alta sociedade e dizia sentir-se como cidadão Barretense. Foi quando recebeu convite para se associar ao Tênis Clube de Barretos, o que ele prontamente aceitou dizendo que era uma honra. No dia que foi formalizar o ingresso no clube veio a baila um assunto do qual ele não havia comentado, sua origem, formação e a família, pormenor que não o preocupava.
Ele era de Campos, Estado do Rio de Janeiro, era formado em advocacia tributária – função que exerceu por pouco tempo, pois descobriu que sua vocação era o campo –, trabalhou com o pai que era cafeicultor, mas sua paixão era a pecuária. Por isso viajou para a Austrália para aprender o que pudesse sobre criação de gado e também sobre corretagem em grande escala, no que a Austrália era pioneira.Bastou um ano para ele saber de todos os meandros da atividade e adquirir prática no campo. Agora, ali estava com seu negócio a pleno vapor. Mas sua ambição ia além, seu objetivo era ele mesmo ser criador e implantar a criação de gado confinado, sistema que abriria comércio para o exterior, principalmente, para a Europa. Com o tempo passou a freqüentar a nata da sociedade e foi num desses eventos que conheceu a jovem filha única do maior criador de gado da região, homem que apesar de não ter cargo, comandava todos os acontecimentos políticos de Barretos e região.
Depois de alguns encontros iniciou entre eles um namoro que foi aprovado pela família da moça, pois viam naquele rapaz um futuro brilhante. Ela não era um exemplo de beleza mas compensava com seu comportamento independente e ativo em relação aos negócios do pai, a mulher ideal para quem tinha ambição. Depois de algum tempo, ele confidenciou ao pai dela que estavam planejando o casamento, com seu consentimento, é claro, e para isso havia pleiteado um empréstimo no Banco do Brasil, local pois pretendia iniciar seu próprio negócio. Estava só esperando a resposta do banco.O pai concordou com seus planos. À noite, em casa, reunido com os dois irmãos, o pai conversou sobre o assunto e com a anuência deles soube qual providência tomar.
Na manhã seguinte, dirigiu-se ao banco e numa reunião com o gerente deu aval ao empréstimo. Quando o rapaz soube, procurou o futuro sogro agradeceu dizendo:
- Agora vou por a mão na massa.
Por intermédio do banco, soube de uma fazenda de porte médio que estava sob hipoteca e à venda. Era ideal para seu propósito. Convidou o futuro sogro par conhecer a propriedade, pois queria sua opinião de homem experiente no ramo. Eles foram ao local e depois de percorrerem a fazenda, aprovou e disse.
- O que faltou aqui foi uma boa administração. Na manhã seguinte, o rapaz foi até o banco e fechou o negócio.
À tarde apanhou a namorada e a levou para conhecer a fazenda, ela gostou do lugar e começaram a fazer planos do que iam fazer ali. O rapaz procurou um expert em projetar instalações para fazenda e foram até o local, depois de saber tudo o que queria, o empreiteiro passou tudo para a prancheta e também a reforma da casa que ia ser ocupada por um administrador, pois o casal ia residir na cidade.
Roberto, então, pediu ao empreiteiro uma previsão de tempo para as obras ficarem prontas. Depois de calcular tudo o que era necessário, pois seria uma obra fora do contexto – uma fazenda para criação de gado confinado – deu três meses. Depois de acertar com a namorada, marcaram o noivado para um mês e mais cinco para o casamento, além de um mês de lua de mel entre a Austrália e a Europa. Comunicaram a família que recebeu a noticia com satisfação. O rapaz, então, disse que ia providenciar a construção da casa para quando retornassem. O futuro sogro, então, disse que a casa ia ser seu presente.
- Vou convocar um projetista e com ele vocês vão escolher como querem a casa e depois vão escolher os móveis para quando chegarem tudo estar em ordem.
Depois de projetada, a planta foi para o construtora que prometeu a casa no prazo programado para o retorno do casal. No prazo combinado, a fazenda ficou pronta, eles ficaram noivos e na data marcada aconteceu o casamento. A festa foi realizada na casa do sogro com a presença dos pais do rapaz que estavam felizes e orgulhosos com o progresso do filho. Depois da festa, a viagem para São Paulo e o embarque para o exterior, nesse ínterim em Barretos a obra da casa estava a todo vapor, em fase de acabamento.Faltando quinze dias para o retorno do casal, a casa ficou pronta. Deram, então, o início à decoração. A sogra contratou uma firma para decorar a casa com os móveis e eletrodomésticos que o casal havia escolhido. A escolha de lustres cortinas e outros adereços ficou a critério da sogra, assessorada pela decoradora.
No retorno do casal, houve uma festa de recepção, organizada pelos amigos e parentes, e nos dias vindouros começou avida nova.Na ausência do casal correu tudo normal no escritório, pois a secretária era muito competente e os contratos feitos já tinham sido adiantados por Roberto. A partir daí, além do escritório, ele começou a dar andamento no negócio a que havia se proposto, a esposa também se integrou no trabalho. E como ele havia pensado, dentro de pouco tempo o negócio passou a dar bons resultados.
Uma mudança profunda
Com o passar dos anos veio o crescimento, o aumento da área de produção, a construção de um matadouro e a instalação de um frigorífico moderno. A seguir os contratos para exportação de carne a granel, o sonho tornou-se realidade para júbilo do casal. Mas havia um fator que obstava a felicidade do casal, a mulher era infértil e não havia nada que a medicina pudesse fazer. Para compensar esta frustração ela se lançou no trabalho de maneira frenética e para complicar aconteceu o falecimento do pai, com um colapso fulminante. Este fato gerou uma mudança na esposa que passou a ter um comportamento irascível.Ela assumiu os negócios do pai, pois havia sido preparada para isso.
O tempo foi passando e o relacionamento do casal foi se desgastando, pois o trabalho da mulher virou obsessão e quando o marido tentava opinar ela dizia que ele já tinha seu negócio e ela era bastante competente para gerir o seu sozinha. O tempo passou e aconteceu o falecimento da sogra. Ele notou que a mulher não se abalou e que o ocorrido parecia um fato corriqueiro. E assim o tempo passava. Os negócios geridos por ela iam de vento em popa, ela havia assimilado o pai era uma grande administradora.
Era admirada e querida na cidade, além dos negócios, dirigia a associação das senhoras católicas que assistia doentes, idosos, pobres e crianças carentes, com quem era muito amável, mas no convívio com o marido tornou-se intratável. O casamento na intimidade havia falido, a relação com o marido era só para manter as aparências. Certa ocasião, ele mencionou a possibilidade do divórcio. A mulher explodiu dizendo que se ele mencionasse isso outra vez ela o mataria, revelando uma agressividade que até o momento ele desconhecia.Como o negócio de gado confinado progrediu. Roberto contratou um jovem, recém formado em engenharia pecuária para assessorá-lo no escritório, e passou ser mais assíduo na fazenda.
Os anos passaram, ele com 52 anos ela 47. A vida do casal era apática, a não ser nos negócios, pois ambos continuavam com a mesma disposição de outrora. E foi nesse clima que ele teve o encontro com aquela mulher que abalou seu emocional.Depois de muito pensar, resolveu ter com ela um contato telefônico. Ligou, então, para a chácara se identificou e questionou um possível encontro. Ela concordou e combinaram o encontro no restaurante do posto, pois por motivos óbvios ele não podia se expor na cidade e ela, mulher experiente, não pôs obstáculos. Do restaurante foram para uma cidade a 40 quilômetros, onde em um hotel tiveram uma aventura amorosa. Depois da primeira, tiveram várias outras.
Ele generoso com presentes e dinheiro e ela com seu corpo e sua beleza. Mas havia um porém. Essas mulheres não ficam muito tempo em uma cidade. Quando comunicou que ia partir, teve uma surpresa, pois ele declarou que estava apaixonado e propôs montar uma casa para ela em uma cidade próxima para que ele pudesse visitá-la e, em contra partida, proporcionaria tudo que ela precisasse, inclusive, um carro. Ela teria toda a liberdade que quisesse, menos com outros homens, claro.
Ela refletiu e pediu um tempo para pensar, pois era um passo muito sério e ela não queria ser magoada e nem magoar ninguém. Ela combinou que iria passar um tempo na casa de parentes no litoral, que não sabiam de sua atividade. Deixou o endereço de uma casa da cidade de Viradouro e em um mês estaria lá . Durante sua estada no litoral refletiu sobre os prós e contras de uma resposta positiva e na possibilidade de deixar aquela vida, tinha planos para o futuro mas ainda não estava preparada financeiramente para iniciar outra vida. Sabia que um dia teria que tomar uma decisão, agora, seria um risco, mas resolveu enfrentar, sabia que homem casado era um problema, mas ele inspirava confiança. A resposta seria sim.
Na data marcada, os dois se encontraram no local combinado. Depois do acerto de ambas as partes passaram a por em prática os planos para o futuro, em um mês ajustaram tudo, uma casa em Pitangueiras, cidade a quarenta quilômetros, um carro e tudo mais que fosse necessário para uma casa.Nos dias que se seguiram sempre que podia ia visitá-la e ficou patente que ele estava apaixonado e quando viajava para as cidades grandes dava um jeito de levá-la junto. Com a felicidade fora, o clima em casa se tornava cada dia mais insuportável, mas uma separação estava fora de questão, ele havia criado raízes na cidade e um escândalo seria desastroso, pois tudo que ele construiu estava ali, isto o atormentava.
Foi nessa época que houve a necessidade de uma pintura na sua casa. Para isso ele contratou o melhor pintor da cidade que com uma equipe ia executar o serviço, era o mesmo pintor que trabalhou durante a construção. Mas para que o serviço fosse executado, o casal se hospedou em um hotel para não ter o desconforto de uma casa em reforma. Durante a execução do serviço Roberto ia até a casa para ver o que estava sendo feito e trocava opinião com o pintor que era um sujeito afável e bem falante. Foi numa dessas idas que o pintor avisou que precisava se ausentar durante três dias, pois precisava levar seu filho de dez anos a São Paulo pois estava fazendo tratamento no Hospital das Clínicas de uma doença rara.
O pessoal que ia ficar trabalhando era competente e dariam conta, sem atrasar o serviço afinal era só três dias. Roberto ficou curioso e perguntou por que as Clínicas e não outro hospital.
- O hospital é publico e tem o recurso para o tratamento”, respondeu o pintor.
- A cada dois meses tenho que levar ele para exames e isso está minando minhas economias, tenho planos de mudar para São Paulo, pois como profissional que sou não terei dificuldades para me adaptar e facilitaria o tratamento. Pus minha casa à venda, mas a oferta máxima que consegui foi 50 por cento do valor.
E num desabafo de desatino disse que estava disposto a fazer qualquer coisa para resolver a situação, até matar se preciso. E com esse desabafo encerrou-se aquele diálogo, o comentário não agradou nada ao dono da casa. Depois do serviço pronto, o casal voltou para casa e tudo voltou à rotina, a não ser pelas discussões, pois as saídas do marido, embora a vida conjugal já não existisse, irritava a mulher que não poupava cenas de histeria. Ele já não encontrava mais desculpas para suas saídas.
Foi após um destes entreveros que começou a brotar em sua mente um plano sinistro. Com o argumento de um serviço na fazenda que ele procurou o pintor, que se prontificou a ir a sede para fazer um orçamento. Durante o trajeto ele perguntou sobre como ia o garoto e se havia resolvido o problema da venda da casa. O pintor respondeu que estava tudo pendente a espera de um comprador pelo preço justo e que, com a demora, seu problema estava aumentando. Quando chegaram à entrada da fazenda ele passou direto, a dois quilômetros parou em um posto-restaurante, encostou o carro e convidou o pintor para descer, pois queria falar com ele. Entraram, ele procurou uma mesa afastada e pediu duas água minerais.
- É o seguinte, o que vou falar com você concorde ou não, não deve sair daqui”, disse e esperou pela reação do outro.
Ele ficou olhando sem nada entender e respondeu:
- Está bem pode falar.
- Lembra quando desabafou e disse que estava disposto a tudo, até matar se preciso fosse para resolver seu problema?, parou e ficou esperando pela reação do outro. O pintor ficou olhando para ele sem nada dizer, que continuou:
- Se está disposto, tenho a solução para seu problema. Preciso que você mate alguém, para isso pago a quantia para você ir para São Paulo comprar uma casa e durante algum tempo se manter sem trabalhar. Dou tempo para você pensar desde que não seja muito e lembre-se se esta conversa sair daqui, nego tudo e ninguém vai acreditar em você.
Levantou-se e convido o pintor a ir embora. Saíram, entraram no carro e partiram. No trajeto de volta não trocaram uma palavra. Ao deixá-lo na cidade disse:- Quando resolver o que fazer, sim ou não entre em contato. Passada uma semana, ao sair de casa e virar uma esquina Roberto viu o pintor de bicicleta que discretamente acenou para ele e apontou para a saída da cidade, ele dirigiu um quilômetro, parou o carro e esperou. Logo o pintor chegou e disse vá até a represa que vou até lá pra conversar.
Ele dirigiu até a represa e esperou, pouco tempo depois chegou o pintor, ele encostou a bicicleta ao lado do carro e disse, marque um lugar e hora para gente combinar, eu topo fazer o serviço. Roberto então marcou hora data e local, ligou o carro e foi embora. No dia marcado, à noite, os dois se encontraram na saída da cidade e colocaram a bicicleta no porta-malas. Pegaram a estrada e foram até um posto-restaurante onde Roberto estacionou o carro e entraram, sentaram em um lugar afastado e pediram uma bebida.O rapaz tirou do bolso uma caderneta e fingiu estar anotando alguma coisa enquanto conversavam. Ele, então, explicou que a pessoa em questão era sua esposa.
- Não vou entrar em detalhes, pois quanto menos você souber melhor. Já planejei tudo e vou explicar como deve ser feito. Toda sexta feira ela participa da reunião das senhoras católicas. Sai de casa às oito horas e volta entre dez e meia e onze horas. Você vai ficar na espreita, quando ela sair você entra na casa, vou lhe dar as chaves do portão e da porta. Depois que entrar feche o portão e a porta não se esqueça de passar a chave. Não acenda as luzes, vou lhe dar uma lanterna de facho direto, para a claridade não se espalhar, não vai ser difícil, pois você conhece a casa. Se quiser espere um tempo na sala para relaxar, pois quando ela chegar você vai ouvir o barulho do portão e do carro. A seguir entre no quarto de hóspedes e se esconda embaixo da cama, pois ela é alta e tem espaço para uma pessoa. A colcha vai cobrir a visão se ela entrar no quarto, mas isto nunca acontece. Fique atento pois entre tomar banho e se vestir para dormir ela gasta meia hora.
Depois que ela apagar as luzes, espere algum tempo, ela dorme rápido e tem o sono pesado, sei por que testei várias vezes. A seguir você sai debaixo da cama e acende a lanterna, proteja o facho de luz com a mão e entra no quarto, bem de perto dê um tiro na cabeça e descubra o corpo até a altura da cintura e acenda o abajur para parecer que ela acordou durante o roubo e foi baleada, dê outro tiro no peito para confirmar. A seguir, vá até o quarto de vestir que você conhece, abra várias gavetas e espalhe o conteúdo pelo chão. Na gaveta da penteadeira tem um estojo de jóias, deixe-o aberto e leve as jóias. Depois eu apanho. Você estará usando luvas o tempo todo desde o portão. Ao sair não feche a porta com a chave, mas o portão sim, vão pensar que pularam o muro e que ela esqueceu de passar a chave na porta. Também vou trazer um pé de cabra para confundi-los. Quando entrar na casa deixe-o perto da porta e só para confundir não o use.Antes de sair na rua, observe se não tem ninguém à vista, vá até a represa jogue o revólver e as chaves na água, bem longe da margem, onde é bastante fundo. Vá para sua casa e aguarde, dentro de uma semana entro em contato para fazer o acerto.
Este contato foi feito na terça-feira, o serviço seria feito na sexta. Na quarta-feira à noite o pintor recebeu a arma, chaves luvas e o pé de cabra. Na quinta-feira pela manhã Roberto viajou para São Paulo, pois tinha contratos para formalizar e só voltaria no sábado à tarde de táxi aéreo. Os contratos eram reais, pois ele havia planejado tudo. No sábado às 16 horas o monomotor deslizou pela pista do aeroporto.Roberto desceu do avião, o carregador apanhou a mala e foram para o corredor de saída.
Quando entrou no saguão deparou com o delegado e dois investigadores. O delegado se adiantou e deu voz de prisão, ele tentou esboçar uma reação, mas quando olhou para fora do aeroporto viu o carro da mulher e ela no volante. Aí desmoronou, foi algemado e levado para o camburão.O que aconteceuO pintor fez uma parte do que foi planejado só que para ter coragem se embebedou antes de ir para a casa e como havia dormido mal na noite anterior, devido a tensão, adormeceu embaixo da cama. Ele deve ter se mexido, pois deixou um pé à mostra e quando a mulher chegou, ao passar em frente do quarto viu o pé. Ela foi até a casa vizinha e chamou a polícia.
Epílogo: Casamento quando errado agüente calado, ou vá viver vendo o sol nascer quadrado.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
domingo, 13 de maio de 2007
O garoto. O Zé botinha e o Chico Guarda.
:: Imagem tirada di site: www.eseguranca.com.br/pes.htm
O s personagens dos fatos que seguem não tinham nada em comum a não ser morarem na mesma cidade.
O Garoto.
Marcos um garoto de oito anos, o mais velho de uma prole de quatro filhos, de um casal que vivia no limite da pobreza. A mãe uma mulher apática que lavava e passava roupa ganhando algum dinheiro para manter uma precária subsistência. O pai apesar de um ótimo profissional não era muito afeito ao trabalho passava mais tempo pescando e jogando baralho, bilhar, bocha, enfim, qualquer jogo.
O garoto ajudava no provento vendendo ovos de uma chácara de porta em porta de manhã e à tarde ia para a escola, aos sábados engraxava sapatos nas residências onde ele tinha uma boa freguesia, pois era muito caprichoso.
Aos domingos vestia sua melhor roupa, calçava uma alpargata que ele detestava - era um sapato feito de lona com sola de corda que era fabricada pela empresa têxtil Alpargatas - o sapato só tinha um padrão de cor, um marrom desbotado, uma coisa horrorosa paupérrima, e lá ia ele pra missa.
Mas ele tinha um sonho ter uma botina igual a que ele engraxava toda semana, a do filho de um freguês, para isso ele sempre desviava uma moeda que guardava em um cofre feito com uma lata de talco vazia que ele mantinha bem escondido.
O Zé Botinha
Era um boa praça oriundo do norte do Brasil das bandas do Pará.
Era caminhoneiro, mas como ele dizia já tinha trabalhado no garimpo em sua terra natal, Zé Botinha porque usava uma bota cano curto que estava sempre tinindo, brilhava como um espelho.
Ele trabalhava como motorista em uma beneficiadora de arroz, onde era muito bem quisto, pois além de pontual cuidava do caminhão como se fosse seu, sempre limpo e brilhando como novo.
Ele transportava arroz de Barretos para Goiás e vice-versa. Apesar de contente com a vida que levava, pois além de ser bem quisto ganhava bem, já que na época havia poucos motoristas, morava em casa própria, tinha dois ótimos filhos de onze e nove anos e uma esposa prendada e bonita. Enfim, era um homem feliz.
Mas ele tinha um sonho que alardeava quando estava reunido com os amigos na bodega do seu Joaquim , entre um copo e outro de cerveja ele exibia uma caderneta da Caixa Econômica e dizia “Meu futuro está aqui. Estou juntando um dinheiro e quando tiver o necessário para comprar o equipamento vou para o garimpo, e quando voltar vou ter o meu próprio caminhão. Comprar um sitio e criar porco inglês e só usar botinha sob medida do Gallat”, que era uma sapataria e selaria que só trabalhava por encomenda para burguês devido o preço .
Chico Guarda. A doença.
Seu Chico como era conhecido nasceu na cidade de Ribeirão Preto e quando jovem aprendeu a profissão de ourives na qual trabalhou um bom tempo até que a família foi para Barretos, onde ele teve dificuldade para de arrumar trabalho, pois a cidade era bem pequena.
A família não tinha dificuldades, pois ele era filho único e a mãe teve problemas no parto e não podia gerar mais. O pai era encarregado no Frigorífico Anglo e morava em uma casa de propriedade da empresa e pagava um aluguel simbólico. A mãe era costureira, e viviam uma vida financeira confortável.
O rapaz fazia um bico aqui outro ali até que chegou a idade do serviço militar, se alistou e foi fazer o tiro de guerra - nome dado ao serviço militar em pequenas cidades. O tempo passou, o final do serviço militar estava próximo e o problema de trabalho ressurgiu. Ele pensou, repensou e não teve dúvidas, se alistou na força pública. Fez os exames necessários e foi aprovado. Foi então encaminhado para Ribeirão Preto para o treinamento. Tempos depois voltou apto para exercer sua função.
Aos vinte e dois anos casou e tiveram dois filhos Carlos e Roberto. Durante o tempo que exerceu seu trabalho, o fez muito bem. Angariou muitos amigos principalmente crianças que o chamavam carinhosamente de seu guarda. Ele morava em uma casa que comprou com a ajuda dos pais no limite da cidade em um terreno bem grande onde as crianças brincavam com seus filhos, e desfrutavam das frutas do pomar que ali havia.
O tempo passou. Vamos encontrá-lo com quarenta e dois anos quando uma doença se abateu sobre o homem que era um exemplo para a comunidade e, principalmente, para as crianças, pois embora o tempo tenha passado ele mantinha o mesmo carinho com elas.
Suas pernas começaram a doer e a inchar, Consultou um médico que constatou um tipo grave de diabete. O diagnóstico: fazer um tratamento com medicamentos, uma rigorosa dieta, dentro de pouco tempo fazer uso de uma cadeira de rodas e, quem sabe, no futuro uma possível amputação.
Ele compreendeu a situação, não esmoreceu e resolveu fazer sua própria cadeira e para montar a cadeira saiu a campo. Conseguiu uma sucata aqui outra ali serrava parafusava, e quando precisava soldar alguma peça contava com um amigo que era serralheiro que o ajudava na soldagem.
Quando já estava montada lixada e pintada, comprou um par de rodas numa bicicletaria e
acabou de montar. Algum tempo depois, a doença se agravou e uma perícia médica o aposentou em definitivo.
Ele então montou uma pequena oficina e passou a praticar a profissão de ourives na própria casa. Eram pequenos serviços mais para passar o tempo. Com o agravamento da doença e o inchaço das pernas e, não podendo mais se manter em pé, passou a usar a cadeira de rodas definitivamente.
Passados três anos, já totalmente adaptado com a situação, estava praticando sua profissão em uma escala maior. Os filhos passaram a viajar comprando ouro e prata, um vinha para São Paulo o outro para cidades de maior porte do interior. E de porta em porta compravam o material. Eram pedaços de ouro, correntinhas, feichos, ouro velho, enfim, qualquer tipo de ouro e prata . O pai derretia o material e fazia aliança, correntes, broches e anéis que vendia na cidade.
Fazia também consertos para os moradores e para a joalheria da cidade.
Com o passar do tempo passou a comprar e vender objetos usados. Comprava e vendia de tudo, com o tempo o negócio prosperou, ia tudo de vento em popa. Um detalhe: o Chico era freguês do Marcos. Comprava ovos e engraxava as botas, agora com a doença só comprava ovos. Admirava o esforço do garoto para ajudar a mãe, pois sabia que o pai era um irresponsável e sempre estimulava ele, para que não desanimasse.
O garimpo. A viagem. A volta. O desastre.
O ourives. O ouro e a Botina. .
Numa tarde de sábado ele chegou na bodega e pediu a seu Joaquim “Ponha cerveja no balcão e abra uma garrafa de Pirassununga que hoje to pagando”. Vrou pro salão e falou “Pessoal chegou o dia. Vamos beber à saúde de todos, porque na segunda-feira to indo pro garimpo”. O pessoal ficou atônito pela surpresa, mas cada um pegou um copo e rapidamente a cerveja e pinga acabaram. “Repete a dose” disse o Zé. Seu Joaquim serviu e ainda surpreso perguntou “E a família e a casa como é que fica”. “Fica” respondeu, “A família, a casa, fica tudo como está, vou eu e Deus. Já provi a mulher por uns meses e não vai faltar nada, se o dinheiro acabar mando mais. Tenho fé em Deus. Acertei com o patrão ele não queria que eu fosse, mas não arredei o pé. Ele até me prometeu emprego se não der certo”.
Na segunda-feira o Botinha subiu na jardineira (ônibus) e partiu deixando a mulher e os filhos chorando e os amigos tristes pois ele era muito querido.
Durante três anos noticias só por carta e pelo dinheiro que ele mandava pra mulher.
Após esse tempo, eis que num sábado um caminhão Ford reluzente novinho, pára em frente da bodega e dele desce queimado como azeviche, pelo sol do norte. O Zé Botinha.
Saudou a todos que estavam ali e deu um grande sorriso que reluziu como o sol, pois ele havia colocado oito jaquetas nos dentes da frente.
Depois de brindar e festejar com os amigos despediu-se e foi para casa, e disse alguém “Ele encontrou seu eldorado”.
Depois vários dias comemorando e fazendo compras para a família, ele começou a por em prática o sonho que tanto acalentou. Deu uma bela reforma na casa, comprou um sítio e iniciou a criação de porcos, mas não esqueceu das sonhadas botas do Gallat do qual passou a ser cliente, botas para si e botinas para os filhos feitas com a melhor pelica da Argentina.
Em três anos passou a ser um dos maiores fornecedores de porcos para o Frigorífico Anglo, enfim, o homem venceu estava rico.
Mas o que ele não imaginava era que uma desgraça se avizinhava de maneira inexorável.
Em uma tarde ao voltar do sítio parou o caminhão em uma vendinha que havia a uns cem metros de uma passagem de nível de trem nos arredores da cidade, ficou por ali durante um tempo bebeu e conversou com os amigos, e já escurecendo se despediu entrou no caminhão e partiu para casa, mas quando chegou na passagem de nível da ferrovia ao mudar a marcha deixou o motor morrer. Tentando ligar o motor, e por estar em uma curva ladeada por um barranco, não viu o trem que o pegou em cheio e o arrastou por uns cem metros destroçando tudo.
O maquinista não pode frear de sopetão pois o trem estava com vários vagões lotados de bois que ia para o Frigorífico. Estranhamente, embora o maquinista afirmasse o contrário, o pessoal que estava na venda disseram que não ouviram o apito do trem, o que era obrigado em toda passagem de nível para alertar algum passante.
Após o acidente, foi uma correria geral, logo chegaram funcionários da Ferrovia os bombeiros da cidade que ficava a dois quilômetros e que providenciaram sacos de lona para recolher os restos do corpo que ficou estraçalhado.
Como havia escurecido, bombeiros ficaram de plantão para evitar que animais devorassem partes do corpo, pois não foi possível recolher tudo.
Na manhã seguinte muitos curiosos foram até o local para ver o desastre, entre elas, o garoto Marcos. Andando por ali o garoto notou algo brilhando no meio de uma moita de capim, abriu a moita e viu uma arcaria dentária e com vestígio de sangue, e brilhando oito dentes de ouro. Apanhou aquele resto macabro enrolou em um pedaço de saco de cimento que apanhou ali perto e foi para casa.
Lá chegando abriu espaço em um pilha de tijolos que havia no quintal colocou o pacote e fechou o buraco sem que ninguém visse.
Alguns dias depois do acidente, ao chegar em casa viu sua mãe com um regador jogando água com creolina no quintal. Dizendo que tinha um cheiro de carniça por ali. Ele disfarçando chegou onde havia escondido pacote e sentiu que o cheiro vinha dali. Pediu então o regador e disse deixe-me ajudar e sem que ela percebesse jogou a água sobre o local que amenizou o cheiro e pensou “Tenho que tirar o pacote daqui”, o que não seria difícil, pois o pai estava pescando em Mato Grosso e era quando ele tinha um pouco mais de liberdade.
No dia seguinte, retirou o pacote que já estava cheirando mal enrolou em um pedaço de trapo pegou a cesta onde carregava os ovos e antes de ir para a chácara dirigiu-se para os fundos do recinto onde faziam a Exposição de gado. Procurou um lugar ermo pegou o embrulho colocou dentro de uma lata de leite em pó vazia, tampou e com uma colher cavou um buraco colocou a lata e cobriu com terra e pedras e foi apanhar os ovos.
Passado um mês da tragédia, as coisas na casa do Zé Botinha se acomodaram. A mulher contratou um capataz para o sítio. Homem que entendia do negócio e pôs tudo para funcionar.
Foi nesse período que começou a pensar no que fazer com seu achado, embora já tivesse uma idéia. Em dois meses ele mudou a lata de lugar várias vezes até que tomou coragem e pôs em prática seu plano.
Foi até a casa do Chico e depois de sondar, perguntou se ele comprava dente de ouro, a princípio ele ficou ressabiado pensou e respondeu que comprava qualquer tipo de ouro desde que não seja roubado, “Você sabe quem tem?”
“Olha seu Chico outro dia eu estava caçando passarinho perto da linha e achei um pedaço de osso com dente de ouro”, ele sabia que era ouro, pois engraxava as botas do finado Zé. Chico ficou curioso, pois sabia que não havia sido encontradas as mandíbulas do Zé e perguntou, quantos dentes são, oito respondeu o garoto.
O Chico coçou o queixo pensou e perguntou se alguém mais sabia, “Não, eu não contei pra ninguém. Achei e escondi”. “Ok” disse o Chico este vai ser o nosso segredo.
Ele pensou e disse “Vamos fazer o seguinte: vou lhe dar um alicate e você vai tentar arrancar os dentes, se conseguir jogue o que restar no pimpão (e um riacho) se não conseguir traga aqui que eu arranco”.
O garoto fez como ele pediu e levou os dentes para ele ver. O Chico retirou as jaquetas testou pesou e esclareceu o quanto tinha que pagar ao garoto. Ele disse que não queria dinheiro e sim que ele comprasse uma botina do Gallat pra ele.
O Chico então explicou que comprar no Gallat ia ser problema, pois além de ter que esperar a encomenda teria que explicar a compra de uma botina sob medida, Marcos concordou, Chico teve uma idéia “Vou pedir ao meu filho para ir com você na selaria Gaúcha e comprar uma botina pra você. Lá tem e são muito boas se estiver de acordo, você vai e escolhe, vai sobrar dinheiro, se não quiser levar eu guardo e quando você quiser vem aqui e eu lhe dou”. “Negócio fechado”, disse o garoto.
“Vocês trazem a botina para aqui e você peça a sua mãe para vir aqui que quero falar com ela”. Quando ela vier direi que estou lhe dando de presente, mas vamos fazer isto logo aproveitando que seu pai esta pescando. “Para ela não ficar curiosa direi que você tem feito uns favores, dado uns recados e até ido à cidade para mim, enquanto entregava os ovos”. Assim ficou combinado, foi feito e deu tudo certo. No sábado Marcos não conseguia disfarçar a ansiedade para que chegasse logo o domingo, a noite foi longa. Quando o dia raiou ele levantou, se lavou, pôs a melhor roupa, calçou as botinas, esqueceu até o café e lá foi saltitante para a missa. Era a primeira vez que usava um calçado de couro.Chegando na Igreja entrou se benzeu, ajoelhou e de mãos postas como bom cristão olhou para cima e fez uma prece para o Zé Botinha.
O Garoto.
Marcos um garoto de oito anos, o mais velho de uma prole de quatro filhos, de um casal que vivia no limite da pobreza. A mãe uma mulher apática que lavava e passava roupa ganhando algum dinheiro para manter uma precária subsistência. O pai apesar de um ótimo profissional não era muito afeito ao trabalho passava mais tempo pescando e jogando baralho, bilhar, bocha, enfim, qualquer jogo.
O garoto ajudava no provento vendendo ovos de uma chácara de porta em porta de manhã e à tarde ia para a escola, aos sábados engraxava sapatos nas residências onde ele tinha uma boa freguesia, pois era muito caprichoso.
Aos domingos vestia sua melhor roupa, calçava uma alpargata que ele detestava - era um sapato feito de lona com sola de corda que era fabricada pela empresa têxtil Alpargatas - o sapato só tinha um padrão de cor, um marrom desbotado, uma coisa horrorosa paupérrima, e lá ia ele pra missa.
Mas ele tinha um sonho ter uma botina igual a que ele engraxava toda semana, a do filho de um freguês, para isso ele sempre desviava uma moeda que guardava em um cofre feito com uma lata de talco vazia que ele mantinha bem escondido.
O Zé Botinha
Era um boa praça oriundo do norte do Brasil das bandas do Pará.
Era caminhoneiro, mas como ele dizia já tinha trabalhado no garimpo em sua terra natal, Zé Botinha porque usava uma bota cano curto que estava sempre tinindo, brilhava como um espelho.
Ele trabalhava como motorista em uma beneficiadora de arroz, onde era muito bem quisto, pois além de pontual cuidava do caminhão como se fosse seu, sempre limpo e brilhando como novo.
Ele transportava arroz de Barretos para Goiás e vice-versa. Apesar de contente com a vida que levava, pois além de ser bem quisto ganhava bem, já que na época havia poucos motoristas, morava em casa própria, tinha dois ótimos filhos de onze e nove anos e uma esposa prendada e bonita. Enfim, era um homem feliz.
Mas ele tinha um sonho que alardeava quando estava reunido com os amigos na bodega do seu Joaquim , entre um copo e outro de cerveja ele exibia uma caderneta da Caixa Econômica e dizia “Meu futuro está aqui. Estou juntando um dinheiro e quando tiver o necessário para comprar o equipamento vou para o garimpo, e quando voltar vou ter o meu próprio caminhão. Comprar um sitio e criar porco inglês e só usar botinha sob medida do Gallat”, que era uma sapataria e selaria que só trabalhava por encomenda para burguês devido o preço .
Chico Guarda. A doença.
Seu Chico como era conhecido nasceu na cidade de Ribeirão Preto e quando jovem aprendeu a profissão de ourives na qual trabalhou um bom tempo até que a família foi para Barretos, onde ele teve dificuldade para de arrumar trabalho, pois a cidade era bem pequena.
A família não tinha dificuldades, pois ele era filho único e a mãe teve problemas no parto e não podia gerar mais. O pai era encarregado no Frigorífico Anglo e morava em uma casa de propriedade da empresa e pagava um aluguel simbólico. A mãe era costureira, e viviam uma vida financeira confortável.
O rapaz fazia um bico aqui outro ali até que chegou a idade do serviço militar, se alistou e foi fazer o tiro de guerra - nome dado ao serviço militar em pequenas cidades. O tempo passou, o final do serviço militar estava próximo e o problema de trabalho ressurgiu. Ele pensou, repensou e não teve dúvidas, se alistou na força pública. Fez os exames necessários e foi aprovado. Foi então encaminhado para Ribeirão Preto para o treinamento. Tempos depois voltou apto para exercer sua função.
Aos vinte e dois anos casou e tiveram dois filhos Carlos e Roberto. Durante o tempo que exerceu seu trabalho, o fez muito bem. Angariou muitos amigos principalmente crianças que o chamavam carinhosamente de seu guarda. Ele morava em uma casa que comprou com a ajuda dos pais no limite da cidade em um terreno bem grande onde as crianças brincavam com seus filhos, e desfrutavam das frutas do pomar que ali havia.
O tempo passou. Vamos encontrá-lo com quarenta e dois anos quando uma doença se abateu sobre o homem que era um exemplo para a comunidade e, principalmente, para as crianças, pois embora o tempo tenha passado ele mantinha o mesmo carinho com elas.
Suas pernas começaram a doer e a inchar, Consultou um médico que constatou um tipo grave de diabete. O diagnóstico: fazer um tratamento com medicamentos, uma rigorosa dieta, dentro de pouco tempo fazer uso de uma cadeira de rodas e, quem sabe, no futuro uma possível amputação.
Ele compreendeu a situação, não esmoreceu e resolveu fazer sua própria cadeira e para montar a cadeira saiu a campo. Conseguiu uma sucata aqui outra ali serrava parafusava, e quando precisava soldar alguma peça contava com um amigo que era serralheiro que o ajudava na soldagem.
Quando já estava montada lixada e pintada, comprou um par de rodas numa bicicletaria e
acabou de montar. Algum tempo depois, a doença se agravou e uma perícia médica o aposentou em definitivo.
Ele então montou uma pequena oficina e passou a praticar a profissão de ourives na própria casa. Eram pequenos serviços mais para passar o tempo. Com o agravamento da doença e o inchaço das pernas e, não podendo mais se manter em pé, passou a usar a cadeira de rodas definitivamente.
Passados três anos, já totalmente adaptado com a situação, estava praticando sua profissão em uma escala maior. Os filhos passaram a viajar comprando ouro e prata, um vinha para São Paulo o outro para cidades de maior porte do interior. E de porta em porta compravam o material. Eram pedaços de ouro, correntinhas, feichos, ouro velho, enfim, qualquer tipo de ouro e prata . O pai derretia o material e fazia aliança, correntes, broches e anéis que vendia na cidade.
Fazia também consertos para os moradores e para a joalheria da cidade.
Com o passar do tempo passou a comprar e vender objetos usados. Comprava e vendia de tudo, com o tempo o negócio prosperou, ia tudo de vento em popa. Um detalhe: o Chico era freguês do Marcos. Comprava ovos e engraxava as botas, agora com a doença só comprava ovos. Admirava o esforço do garoto para ajudar a mãe, pois sabia que o pai era um irresponsável e sempre estimulava ele, para que não desanimasse.
O garimpo. A viagem. A volta. O desastre.
O ourives. O ouro e a Botina. .
Numa tarde de sábado ele chegou na bodega e pediu a seu Joaquim “Ponha cerveja no balcão e abra uma garrafa de Pirassununga que hoje to pagando”. Vrou pro salão e falou “Pessoal chegou o dia. Vamos beber à saúde de todos, porque na segunda-feira to indo pro garimpo”. O pessoal ficou atônito pela surpresa, mas cada um pegou um copo e rapidamente a cerveja e pinga acabaram. “Repete a dose” disse o Zé. Seu Joaquim serviu e ainda surpreso perguntou “E a família e a casa como é que fica”. “Fica” respondeu, “A família, a casa, fica tudo como está, vou eu e Deus. Já provi a mulher por uns meses e não vai faltar nada, se o dinheiro acabar mando mais. Tenho fé em Deus. Acertei com o patrão ele não queria que eu fosse, mas não arredei o pé. Ele até me prometeu emprego se não der certo”.
Na segunda-feira o Botinha subiu na jardineira (ônibus) e partiu deixando a mulher e os filhos chorando e os amigos tristes pois ele era muito querido.
Durante três anos noticias só por carta e pelo dinheiro que ele mandava pra mulher.
Após esse tempo, eis que num sábado um caminhão Ford reluzente novinho, pára em frente da bodega e dele desce queimado como azeviche, pelo sol do norte. O Zé Botinha.
Saudou a todos que estavam ali e deu um grande sorriso que reluziu como o sol, pois ele havia colocado oito jaquetas nos dentes da frente.
Depois de brindar e festejar com os amigos despediu-se e foi para casa, e disse alguém “Ele encontrou seu eldorado”.
Depois vários dias comemorando e fazendo compras para a família, ele começou a por em prática o sonho que tanto acalentou. Deu uma bela reforma na casa, comprou um sítio e iniciou a criação de porcos, mas não esqueceu das sonhadas botas do Gallat do qual passou a ser cliente, botas para si e botinas para os filhos feitas com a melhor pelica da Argentina.
Em três anos passou a ser um dos maiores fornecedores de porcos para o Frigorífico Anglo, enfim, o homem venceu estava rico.
Mas o que ele não imaginava era que uma desgraça se avizinhava de maneira inexorável.
Em uma tarde ao voltar do sítio parou o caminhão em uma vendinha que havia a uns cem metros de uma passagem de nível de trem nos arredores da cidade, ficou por ali durante um tempo bebeu e conversou com os amigos, e já escurecendo se despediu entrou no caminhão e partiu para casa, mas quando chegou na passagem de nível da ferrovia ao mudar a marcha deixou o motor morrer. Tentando ligar o motor, e por estar em uma curva ladeada por um barranco, não viu o trem que o pegou em cheio e o arrastou por uns cem metros destroçando tudo.
O maquinista não pode frear de sopetão pois o trem estava com vários vagões lotados de bois que ia para o Frigorífico. Estranhamente, embora o maquinista afirmasse o contrário, o pessoal que estava na venda disseram que não ouviram o apito do trem, o que era obrigado em toda passagem de nível para alertar algum passante.
Após o acidente, foi uma correria geral, logo chegaram funcionários da Ferrovia os bombeiros da cidade que ficava a dois quilômetros e que providenciaram sacos de lona para recolher os restos do corpo que ficou estraçalhado.
Como havia escurecido, bombeiros ficaram de plantão para evitar que animais devorassem partes do corpo, pois não foi possível recolher tudo.
Na manhã seguinte muitos curiosos foram até o local para ver o desastre, entre elas, o garoto Marcos. Andando por ali o garoto notou algo brilhando no meio de uma moita de capim, abriu a moita e viu uma arcaria dentária e com vestígio de sangue, e brilhando oito dentes de ouro. Apanhou aquele resto macabro enrolou em um pedaço de saco de cimento que apanhou ali perto e foi para casa.
Lá chegando abriu espaço em um pilha de tijolos que havia no quintal colocou o pacote e fechou o buraco sem que ninguém visse.
Alguns dias depois do acidente, ao chegar em casa viu sua mãe com um regador jogando água com creolina no quintal. Dizendo que tinha um cheiro de carniça por ali. Ele disfarçando chegou onde havia escondido pacote e sentiu que o cheiro vinha dali. Pediu então o regador e disse deixe-me ajudar e sem que ela percebesse jogou a água sobre o local que amenizou o cheiro e pensou “Tenho que tirar o pacote daqui”, o que não seria difícil, pois o pai estava pescando em Mato Grosso e era quando ele tinha um pouco mais de liberdade.
No dia seguinte, retirou o pacote que já estava cheirando mal enrolou em um pedaço de trapo pegou a cesta onde carregava os ovos e antes de ir para a chácara dirigiu-se para os fundos do recinto onde faziam a Exposição de gado. Procurou um lugar ermo pegou o embrulho colocou dentro de uma lata de leite em pó vazia, tampou e com uma colher cavou um buraco colocou a lata e cobriu com terra e pedras e foi apanhar os ovos.
Passado um mês da tragédia, as coisas na casa do Zé Botinha se acomodaram. A mulher contratou um capataz para o sítio. Homem que entendia do negócio e pôs tudo para funcionar.
Foi nesse período que começou a pensar no que fazer com seu achado, embora já tivesse uma idéia. Em dois meses ele mudou a lata de lugar várias vezes até que tomou coragem e pôs em prática seu plano.
Foi até a casa do Chico e depois de sondar, perguntou se ele comprava dente de ouro, a princípio ele ficou ressabiado pensou e respondeu que comprava qualquer tipo de ouro desde que não seja roubado, “Você sabe quem tem?”
“Olha seu Chico outro dia eu estava caçando passarinho perto da linha e achei um pedaço de osso com dente de ouro”, ele sabia que era ouro, pois engraxava as botas do finado Zé. Chico ficou curioso, pois sabia que não havia sido encontradas as mandíbulas do Zé e perguntou, quantos dentes são, oito respondeu o garoto.
O Chico coçou o queixo pensou e perguntou se alguém mais sabia, “Não, eu não contei pra ninguém. Achei e escondi”. “Ok” disse o Chico este vai ser o nosso segredo.
Ele pensou e disse “Vamos fazer o seguinte: vou lhe dar um alicate e você vai tentar arrancar os dentes, se conseguir jogue o que restar no pimpão (e um riacho) se não conseguir traga aqui que eu arranco”.
O garoto fez como ele pediu e levou os dentes para ele ver. O Chico retirou as jaquetas testou pesou e esclareceu o quanto tinha que pagar ao garoto. Ele disse que não queria dinheiro e sim que ele comprasse uma botina do Gallat pra ele.
O Chico então explicou que comprar no Gallat ia ser problema, pois além de ter que esperar a encomenda teria que explicar a compra de uma botina sob medida, Marcos concordou, Chico teve uma idéia “Vou pedir ao meu filho para ir com você na selaria Gaúcha e comprar uma botina pra você. Lá tem e são muito boas se estiver de acordo, você vai e escolhe, vai sobrar dinheiro, se não quiser levar eu guardo e quando você quiser vem aqui e eu lhe dou”. “Negócio fechado”, disse o garoto.
“Vocês trazem a botina para aqui e você peça a sua mãe para vir aqui que quero falar com ela”. Quando ela vier direi que estou lhe dando de presente, mas vamos fazer isto logo aproveitando que seu pai esta pescando. “Para ela não ficar curiosa direi que você tem feito uns favores, dado uns recados e até ido à cidade para mim, enquanto entregava os ovos”. Assim ficou combinado, foi feito e deu tudo certo. No sábado Marcos não conseguia disfarçar a ansiedade para que chegasse logo o domingo, a noite foi longa. Quando o dia raiou ele levantou, se lavou, pôs a melhor roupa, calçou as botinas, esqueceu até o café e lá foi saltitante para a missa. Era a primeira vez que usava um calçado de couro.Chegando na Igreja entrou se benzeu, ajoelhou e de mãos postas como bom cristão olhou para cima e fez uma prece para o Zé Botinha.
Procura-se um amigo "invertido"
Procura-se um amigo que não goste de poesia, noitada pássaros e curtição.
Não goste da lua, do sol, do canto dos ventos, das canções e da brisa.
Não deve ter um grande amor por alguém e não sentir falta de não ter esse amor .
Não deve respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Não deve guardar segredo nem se sacrificar, nem é preciso.
Procura-se um amigo que não seja de primeira mão, pode ser de segunda.
Pode até ter sido enganado, pois amigo e pra ser enganado.
Procura-se um amigo não é preciso que seja puro. Ah! Deve ser vulgar.
Não deve ter um ideal ou medo de perdê-lo.
Não deve sentir o vácuo que isso deixa.
Não deve ter ressonância humana.
Seu principal objetivo não deve ser o amigo.
Não deve sentir pena das pessoas tristes, e nem compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo que não goste dos mesmos gostos e que não se comova quando chamado de amigo.
Que não saiba conversar de coisas simples.
Que não goste orvalho e de grandes chuvas, e de recordar coisas da infância.
Procura-se um amigo que não conte, o que viu de belo e triste durante o dia.
Procura-se um amigo que não diga que vale a pena viver porque já se tem um amigo.
Procura-se um amigo pra não se parar de chorar.
E ficar debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que não nos bata no ombro nem sorrindo ou chorando.
E que não nos chame de amigo pra se ter consciência.
De que se morre não se vive.
Ah! Ele não deve gostar de caminhos desertos, ruas molhadas e poças d´água.
De beira de estrada, de mato depois da chuva e deitar no capim molhado, sob o sol da tarde quente.
Resumindo ele sempre enganou, mas nunca gostou de nada.
Ele finge que gosta.
E nós fingimos que acreditamos.
A radiografia do âmago de uma pessoa amarga.
Não goste da lua, do sol, do canto dos ventos, das canções e da brisa.
Não deve ter um grande amor por alguém e não sentir falta de não ter esse amor .
Não deve respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Não deve guardar segredo nem se sacrificar, nem é preciso.
Procura-se um amigo que não seja de primeira mão, pode ser de segunda.
Pode até ter sido enganado, pois amigo e pra ser enganado.
Procura-se um amigo não é preciso que seja puro. Ah! Deve ser vulgar.
Não deve ter um ideal ou medo de perdê-lo.
Não deve sentir o vácuo que isso deixa.
Não deve ter ressonância humana.
Seu principal objetivo não deve ser o amigo.
Não deve sentir pena das pessoas tristes, e nem compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo que não goste dos mesmos gostos e que não se comova quando chamado de amigo.
Que não saiba conversar de coisas simples.
Que não goste orvalho e de grandes chuvas, e de recordar coisas da infância.
Procura-se um amigo que não conte, o que viu de belo e triste durante o dia.
Procura-se um amigo que não diga que vale a pena viver porque já se tem um amigo.
Procura-se um amigo pra não se parar de chorar.
E ficar debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que não nos bata no ombro nem sorrindo ou chorando.
E que não nos chame de amigo pra se ter consciência.
De que se morre não se vive.
Ah! Ele não deve gostar de caminhos desertos, ruas molhadas e poças d´água.
De beira de estrada, de mato depois da chuva e deitar no capim molhado, sob o sol da tarde quente.
Resumindo ele sempre enganou, mas nunca gostou de nada.
Ele finge que gosta.
E nós fingimos que acreditamos.
A radiografia do âmago de uma pessoa amarga.
Procura-se um amigo
Tem de gostar de poesia, noitadas, pássaros e curtição.
Da lua, do sol, do canto dos ventos e das canções da brisa.
Deve te amor, um grande amor por alguém.
Ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Procura-se um amigo e não preciso que seja de primeira mão.
Nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode até ter sido enganado.
Pois todos os amigos são enganados.Não é preciso que seja puro ou todo impuro. Ah! Não deve ser vulgar.Deve ter um ideal e medo de perdê-lo.
E se no caso de assim não ser, ele deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem de ter ressonância humana.
Seu principal objetivo deve ser o amigo.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos.
E que se comova quando chamá-lo de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples.
De orvalho, grandes chuvas e recordar coisas da infância.
Procura-se um amigo para contar o que se viu de belo e triste.
Dos anseios, das realizações, dos sonhos e da dura realidade.
Ah! Ele deve gostar de caminhos desertos, ruas molhadas e poças d’água.
De beira de estrada, de mato depois da chuva e deitar no capim.
Procura-se um amigo que diga que vale a pena viver não porque a vida e bela.
Mas porque já se tem um amigo.
Procura-se um amigo pra se parar de chorar e não ficar debruçado no passado.
Em busca de memórias perdidas.
Procura-se um amigo que nos bata no ombro sorrindo ou chorando.
Mas que nos chame de amigo. Para ter se consciência que ainda se vive.
Da lua, do sol, do canto dos ventos e das canções da brisa.
Deve te amor, um grande amor por alguém.
Ou então sentir falta de não ter esse amor.
Deve respeitar a dor que os passantes levam consigo.
Deve guardar segredo sem se sacrificar.
Procura-se um amigo e não preciso que seja de primeira mão.
Nem é imprescindível que seja de segunda mão.
Pode até ter sido enganado.
Pois todos os amigos são enganados.Não é preciso que seja puro ou todo impuro. Ah! Não deve ser vulgar.Deve ter um ideal e medo de perdê-lo.
E se no caso de assim não ser, ele deve sentir o grande vácuo que isso deixa.
Tem de ter ressonância humana.
Seu principal objetivo deve ser o amigo.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos.
E que se comova quando chamá-lo de amigo.
Que saiba conversar de coisas simples.
De orvalho, grandes chuvas e recordar coisas da infância.
Procura-se um amigo para contar o que se viu de belo e triste.
Dos anseios, das realizações, dos sonhos e da dura realidade.
Ah! Ele deve gostar de caminhos desertos, ruas molhadas e poças d’água.
De beira de estrada, de mato depois da chuva e deitar no capim.
Procura-se um amigo que diga que vale a pena viver não porque a vida e bela.
Mas porque já se tem um amigo.
Procura-se um amigo pra se parar de chorar e não ficar debruçado no passado.
Em busca de memórias perdidas.
Procura-se um amigo que nos bata no ombro sorrindo ou chorando.
Mas que nos chame de amigo. Para ter se consciência que ainda se vive.
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