sábado, 15 de dezembro de 2007


Eu sempre fui um FANFARRÃO! Foto tirada no Jardim Zoológico de São Paulo há 44 anos! Mas, para os desavisados, eu ainda continuo em boa forma,tanto é que logo logo vou postar uma versão atualizada dessa foto. Aguardem!
Revivendo boas lembranças: Da esquerda para a direita: Margarida, Francisca, Gilberto (maiores), Estela, Neide, Walter (eu!!!), menores.
A foto foi tirada na casa da tia Marciana, em Barretos, há sessenta e dois anos!!!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Ei você

Simone soube que você planeja ir morar sozinha ate o mês de março.
Acredito que você iria conversar comigo sobre o assunto, mas para evitar um constrangimento vou expor minha opinião a respeito.

A relação entre pais e filhos na minha visão.

Tem pais que tem os filhos como sua propriedade como também querem se apropriar da suas vidas dos seus sonhos e também das suas emoções, Um comportamento negativo dos pais.

A Realidade

O Filho-a nasce ligado pelo cordão umbilical que após o parto e imediatamente cortado separando-o da mãe, Mas imediatamente e criado um hipotético cordão que os ligam Mãe, Pai, e Filho por um período de tempo quase que já delimitado pela própria vida. Este cordão funciona como o cordão de um io-iô que impulsionado ele vai e vem, mas sempre ao alcance de nossas mãos. Embora o cordão sendo comprido o impulso e limitado, pois o cordão não esta amarrado ao io-iô e correria-se o risco de perder o controle.
Com ocorrer do tempo o cordão tem que ser solto aos poucos, pois a sua frente surge um novo horizonte e a necessidade de contato com os meandros da vida, das emoções da alegria de viver e sonhar, enfim entrar em contato com a Escola da vida... Com o passar do tempo já vencida a primeira etapa surge a necessidade de partir para a segunda ai fecha-se o primeiro ciclo. Afrouxa-se a pressão do cordão e o io-iô está livre para ir em busca do seu destino.

A união formal

O ser humano desde o seu aparecimento teve uma evolução fantástica em muito setor de atividade, mas cometeu muitos erros um deles Crasso o da União cartorial, senão vejamos a formalidade da a cada um o poder de suposta propriedade de um ser o que e uma balela, pois sabemos que por rincões afora e mesmo nos grandes centros o homem e o mandatário e a mulher um mero objeto sem vontade própria.
A sociedade deveria dar um basta e banir esta hipocrisia que e a interferência do cartório e da igreja na união de um casal, pois o importante e a boa relação entre os dois e não e um contrato que vai garantir isto.

O futuro? Que no futuro se crie uma jurisprudência para proteger o direito de cada um, e dos filhos que por ventura tenham. Dar-se a um basta na expressão esta e minha mulher e vice versa, O correto será, esta e minha companheira e vice versa.
Sei que o tema e polêmico, pois está arraigado na sociedade e para muitos fora de questão, Mas é minha opinião atual.

Por essa razão estou de pleno Acordo com você.
Walter

Um garoto endiabrado


Barretos é uma cidade que gerou muitos personagens para o bem e para o mal tanto adultos como crianças.
Esta narrativa é sobre a trajetória de uma criança acima da media em comportamento social o qual podemos classificar como atitudes delinqüentes.
Para dar corpo a esta narrativa temos que voltar no tempo, pra outra cidade e em outro estado, Minas Gerais.
Frutal é uma pequena cidade, más importantes, pois por ali transitava grandes manadas de gado que demandava de Goiás, Mato Grosso e era embarcada para varias partes do Pais para abastecer os frigoríficos que exportavam para varias partes do mundo principalmente para a Europa, carne enlatada e embutidos.
Nossos personagens um casal e três filhos, a mãe uma mulher apática que não fazia outra coisa a não ser os afazeres domésticos.
O pai um homem truculento, só com os filhos, era um ótimo profissional, mas não muito afeito ao trabalho não bebia, o seu vicio o jogo e pescaria, passava a maior parte do tempo nessas atividades e por essa razão estava sempre em litígio com o patrão, em varias ocasiões pela irresponsabilidade a família teve dificuldade para se alimentar chegando a consumir quirela de milho por falta de outro alimento, pois ele passava vários dias ausente pescando ou jogando em outras cidades.
E por este comportamento acabou ficando desempregado, e a situação ficou insustentável.
A mãe imposta pelo marido ia foi a cidade de Barretos pedir ajuda a uma irmã, casada com um enfermeiro e que tinha um pequeno atelier de costura. A irmã deu lhe algum dinheiro, mas ficou irritada, pois aquilo já tinha se tornado um habito.
Depois que a irmã foi embora ela tomou uma atitude escreveu uma carta para uma irmã do cunhado que morava em S. Paulo relatando o que estava o correndo e que ela não poderia mais ajudar, pois tinha que cuidar da própria vida.
A irmã do cunhado ao receber a carta ficou furiosa, mas resolveu ajuda - lo. Incontinente foi até a cidade de Frutal e propôs levar todos para S.Paulo o irmão relutou, mas acabou cedendo, pois ele devia aluguel atrasado devia no armazém no açougue a situação era deplorável.
Ela então saldou as dividas desfez dos poucos moveis que tinham pegaram um ônibus para Barretos e la tomaram um trem para S. Paulo, durante a viagem houve um fato pitoresco uma chuva fortíssima inundou um rio pelo qual o trem passava, a água chegou a altura dos trilhos e o trem passou bem devagarinho e alguns garotos foram até a plataforma tentando molhar os pés.
Chegando em S. Paulo a família foi acomodada em uma casa humilde no bairro do Jabaquara, era um misto de casa e cortiço com um porão na frente cheio de quinquilharias, havia também um pequeno gramado na parte da frente há um metro do nível da rua a casa não tinha muro nem cerca.
A família passou a dividir a casa com a bisavó dos meninos que era chamada de vó Guilhermina e que tinha o estranho habito de costurar o saco de pão e só abri-lo na hora do café isto era todo dia.
O pai logo arrumou emprego pelo bom profissional que era, mas foi por poucos meses depois meteu na cabeça a volta para o interior e sempre trocando de emprego, enquanto isso os garotos passava o tempo brincando e matando aranhas enormes que saiam do porão, ir na rua nem pensar pois a vó não deixava, a mãe sempre apática e com os afazeres da pequena casa como se o mundo tivesse parado, as vezes umas lambadas nas crianças por alguma arte ia tocando a insípida vida.
A irmã morava em outro bairro às vezes aparecia e os dois punham-se a discutir, pois ele queria de qualquer forma voltar para o interior e queria sua ajuda a insistência foi tanta que ela cedeu, informou então a ele que o inventario da mãe foi resolvido e que ela precisava uma procuração dele para vender os bens dela na cidade de Bauru um prostíbulo e duas casas que estavam sendo administradas por um advogado o qual já tinha um comprador comprador.
Tudo combinado, ela com a procuração viajou para Bauru onde vendeu o prostíbulo com tudo que havia dentro, vendeu as casas e voltou para S. Paulo.
Chegando em S. Paulo iniciou os preparativos para a volta para o interior, Antes de partir fizeram um acordo que era um pedido da mãe, Que ela comprasse uma casa em nome das crianças montasse uma oficina para ele trabalhar e o provesse por um ano de alimento e algum dinheiro, pois ela sabia que se pusesse em suas mãos o que lhe cabia ele poderia acabar com tudo, e quem iria sofrer era a família, ele não vendo outra saída concordou embora louco da vida.
Passado alguns dias lá foi a família de volta para o interior e a irmã foi junta, destino a cidade de Barretos onde ele já havia trabalhado, e que tinha campo para outra alfaiataria, pois a cidade estava em ascensão.
Após chegar na cidade e alojar a família em um hotel eles saíram a campo para comprar uma casa e alugar um salão.
Depois de uma semana haviam comprado um pequena casa e alugado um salão, em duas semanas estavam instalados na casa e o irmão com uma alfaiataria montada na rua 22 entre as avs 25 e 27
Depois de tudo acertado a irmã deixou uma quantia de dinheiro com o irmão despediu de todos e retornou para S. Paulo.
Logo após de instalado começou a aparecer os fregueses e o negocio prosperou, tanto que ele teve que contratar um oficial de paletó e um jovem calceiro que logo mostrou interesse em aprender a fazer paletó.
O rapaz surpreendeu o patrão, pois em três meses aprendeu a cortar e fazer paletó melhor que o outro oficial, seu nome Jose Pereira.
Em sei meses sem jogo e sem pescaria e o negocio funcionando parecia que ele havia se firmado.
Foi quando apareceu na alfaiataria um empreiteiro que instalava redes elétricas e que encomendou varias calças de trabalho para seus funcionários. Quinze dias depois ele foi buscar as calças, e numa conversa com uma pessoa que estava com ele mencionou uma pescaria que iam fazer no fim de semana. O freguês de nome Pirola percebeu que o alfaiate estava atento na conversa perguntou, o s.r gosta de pescar, sim respondeu é o meu passa tempo predileto. Depois da conversa ele pagou o alfaiate se despediu e já na calçada perguntou quer ir pescar na minha ilha no sábado, quero sim respondeu o alfaiate.
Piróla então passou seu endereço e disse saímos no sábado às três horas entrou no seu caminhão e foi embora.
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No sábado o patrão encarregou o Pereira para tomar conta da alfaiataria e recomendou ao rapaz dizer que ele precisou ir a uma cidade vizinha e quando fosse seis horas fechar a oficina como de costume e no domingo ele pegaria as chaves e faria o acerto de contas, fez um vale para os oficiais e saiu.
Nas semanas vindouras outras pescarias um joguinho de cartas uma passada pelo bilhar e logo tudo voltou a rotina de antes inclusive os problemas.
Logo começou a reclamações dos fregueses, roupa que não ficava pronta, empregado recebendo parcelado ausência na alfaiataria dividas se acumulando, até que começou o atraso do aluguel.
O negocio começou ir a bancarrota, os oficiais de paletó recendo parcelas saíram e foram trabalhar para outro alfaiate, com ele só ficou o Pereira , Ele nervoso com a situação passou a se ausentar passava a maior parte do tempo no bilhar na bocha ou pescando, nesta altura já tinha vários amigos, e como ele irresponsáveis.
Pressionado pelo dono do imóvel ele fez uma proposta de venda da alfaiataria para o Pereira ele assumiria a divida e o restante pagaria conforme fosse trabalhando, O rapaz que tinha alguma economia junto com o irmão Paulinho fechou negocio adiantou algum dinheiro para o alfaiate pagou parte dos atrasados e assumiu o negocio.
Negocio fechado os irmãos mudaram a oficina para um salão menor na esquina da av: 23 com a rua 28. O Paulinho continuou a trabalhar na coletoria onde era funcionário.
Algum tempo depois o alfaiate sem dinheiro e com o credito encerrado no armazém passou a trabalhar para um turco de nome Abdala, trabalhou durante algum tempo até que o Pirola organizou uma pescaria para Mato Grosso e o contratou como cozinheiro em troca das despesas que ele teria.
Fecharam a carroceria do caminhão nas laterais e no teto e partiram para a aventura, no total de dez pessoas.
Dois meses depois retornaram, ele doente com malaria, Nesse ínterim a família já estava passando necessidade, a mãe lavava e passava roupa para fora para poder comer, o garoto antes de ir para a escola engraxava sapatos e recolhia esterco para vender para ajudar no sustento.
Depois de algum tempo ele já melhor de saúde passou a trabalhar para um alfaiate de nome Nelson Moni.
Não satisfeito abandonou o trabalho e voltou a rotina de jogo e pescarias e passava dias na ilha do Pirola onde tinha um rancho todo equipado para hospedar varias pessoas todos amigos do dono e que gostavam de sua presença pois alem de ser um bom companheiro era um ótimo cozinheiro.
Foi nessa época que nasceu uma menina e a mãe como era de costume ficou de resguardo, parou de lavar e passar roupa pra fora ai aumentou as dificuldades que era sanada com a ajuda da irmã e dos garotos.
Foi nessa época que se instalou uma Empresa de reflorestamento de eucaliptos que passou a empregar crianças para o plantio. Os garotos passaram então a trabalhar no plantio, na parte da manhã plantavam e a tarde iam a escola.
Quando terminou a safra do plantio o pai sentiu a falta do dinheiro que os garotos ganhavam. Passou então a bolar uma atividade para os garotos ajudarem nas despesas.
O.b.s Este relato e necessário para demonstrar como o desajuste dos pais pode influenciar na personalidade e no comportamento de um garoto, depois um jovem e provavelmente quando adulto.
A seguir os fatos que justificam o titulo do texto.

Um garoto Endiabrado.

O pai como não era criativo pos garoto mais velho a concorrer com outro garoto da vizinhança , iniciou com venda de ovos de porta em porta, mas não deu certo, pois havia um rapazote de nome José Catarino que dominava este comercio, o pai então partiu para o doce de leite em tablete outro fracasso, pois havia dois irmãos italianos que dominava o ramo.
O pai freqüentava a casa de um compadre padrinho de um dos filhos que fazia uma empadinha inigualável que eram vendidas por ele e por um filho pelas ruas em oficinas ponto de táxi estação do trem enfim pela cidade inteira e sem que o compadre percebesse anotou a receita que passou para a esposa, ela então iniciou a fazer empadas e o pai pos o garoto para vender, outro fracasso, pois faziam até gozação com a diferença do produto, o pai enraivecido o chamava de moleque vagabundo lazarento e macutena.
As tentativas de vendas levou o garoto a confrontos com outros meninos que já executavam estas atividades ao que ele respondia com muita violência e que lhe rendeu o apelido de boi mocho,
( é um tipo de boi que ataca qualquer obstáculo não importando o que seja )
Na sua companhia estava sempre o irmão que por ser covarde e medroso ganhou o apelido de boi sonso.
O garoto (boi mocho) apesar de ser franzino ganhou fama entre a molecada uns o respeitava outros o temiam.
Na escola que era mista em relação a pobres e ricos enquanto os meninos pobres entravam na fila para apanhar o lanche no recreio ele comia com os ricos, pois trocava proteção por lanche e algum dinheiro contra os meninos truculentos.
E o pai? Ele continuava a procurar um produto para o garoto vender, pirulito de tabuleiro paçoquinha feita em casa, até que bolou um sanduíche para vender no tiro de guerra, Só que existia um problema faltava um incentivo para ele trabalhar, pois o pai ficava com todo o dinheiro, mas o garoto resolveu este problema ele ajudava a fazer o lanche e sem que a mãe percebesse ele colocava um fatia a mais de mortadela, no caminho passava na padaria e com o dinheiro que levava pra troco comprava mais pão e com a fatia que punha a mais fazia seu próprio sanduíche vendia e embolsava o dinheiro.
Depois de algum tempo o pai achando que o lucro era pouco resolveu mudar para outro produto.
Havia um parente de nome João de Paula que fazia uma bala de coco que ele mesmo fazia e vendia pela cidade que era uma delicia e com a qual sustentava a família. O pai então pensou porque não fazer o mesmo, conseguiu uma receita e a esposa passou a fazer balas para vender. O garoto saiu com uma cesta cheia, mas voltou com quase tudo, pois não tinha a qualidade das balas do tio.
Nesse dia o garoto foi para a escola com os bolsos cheios de bala, mas o pai não desistiu.
No domingo a mãe deu uma caprichada e lá foi o garoto vender as balas, na sua andança parou em um campo de futebol de várzea para tentar vender, Foi quando um tal de Jair dono de uma oficina mecânica foi chamado para substituir um jogador, ele então tirou o relógio pegou a carteira e colocou entre as roupas que estava na garupa de uma motocicleta. O garoto observando ficou tentado a furtar os objetos e como nunca havia feito aquilo ficou com receio más a ambição falou mais alto e sem ser notado surrupiou a carteira e o relógio e saiu dali, foi até um riacho de nome pimpão para verificar o conteúdo da carteira notou então que havia uma boa quantia retirou o dinheiro e guardou, teve então uma idéia e enterrou as balas na areia, foi para a cidade e no caminho jogou a carteira em um jardim o relógio ele escondeu entre uns entulhos para depois apanhar.
Feito isto dirigiu-se a uma piscina onde se pagava uma taxa para nadar, passou varias horas nadando e quando chegou a tarde resolveu ir embora pagou a taxa e pediu a s.r Joaquim o dono para trocar o dinheiro pois havia vendido as balas para uma festa de aniversario e a mãe ia precisar de trocados,
fez isso para não levantar suspeitas levando dinheiro graúdo. O dono até gostou, pois não ia precisar ir ao banco para trocar o dinheiro na manhã seguinte.
Chegando em casa prestou contas com a mãe que ficou feliz com o resultado da venda, quando o pai chegou da bocha e soube do resultado exclamou ótimo, ótimo o negocio e você fazer balas só pro domingo disse pra esposa, e pegando uma moeda de 4oo reis o preço da entrada do cinema deu pro garoto dizendo hoje você merece ir, O garoto saiu dali e com ódio jogou a moeda longe.
Terminou a semana e voltou tudo a rotina menos pro pai que começou a fazer pequenos quadros com estampa de santo para o garoto vender, como o povo pobre era muito religioso teve boa aceitação, mas o garoto estava mesmo preocupado era com as balas de domingo, pois o resto do dinheiro que ele havia furtado era pouco para cobrir a quantidade de balas que a mãe pretendia fazer.
Assim chegamos no sábado, de manhã ele vendeu alguns quadros, voltou para casa almoçou e preparou a caixa para engraxar sapatos o que era feito na casa dos fregueses, ele tinha vários que davam preferência a ele, pois era ótimo no que fazia, O garoto tinha uma qualidade era perfeccionista na sua idade era imbatível em tudo o que fazia inclusive na maldade, no serviço no jogo de bola rodar pião bola de gude na pontaria com estilingue, era o melhor nadador brigava como galo índio, Tinha os melhores canários que ele mesmo criava tinha uma sintonia incrível com os pássaros alguns eram de briga que alem de ter o melhor canto, na briga eram imbatíveis
Mas este garoto às vezes agia com muita crueldade e era vingativo, eis um fato que comprova isto.
Em frente sua casa morava uma senhora de nome Georgina uma idosa que tinha um gato que ela tratava como um filho e que era seu companheiro de todas as horas, o gato não saia de casa, mas há fatos que e inexplicável um dia ele saiu atacou e matou um dos canários. O garoto quando soube não emitiu um gesto nem verteu uma lagrima, a mãe achou estranho pos ele adorava o passaro, mas enfim.
Depois deste episodio o gato passou a rondar o quintal parecendo ter tomado gosto pela coisa até que chegamos no sábado um feriado santo, foi quando a mãe depois do almoço resolveu ir visitar a irmã, preparou as crianças e na hora de sair o garoto disse que mais tarde ia guardar as gaiolas e ir nadar com os amigos.
Depois que a mãe saiu ele pegou um pedaço de lingüiça que havia comprado e escondido picou em pedacinhos e fez uma trilha até um galinheiro que o pai usava para manter galos de briga, mas que agora estava vazio.
Isto feito pos se a esperar, sua espera não foi em vão logo depois lá vem o gato ressabiado, até que achou a lingüiça, ainda cauteloso pos se a comer até que adentrou no galinheiro, o garoto saiu então da casinha que servia de banheiro e rapidamente fechou a porta do galinheiro.
O gato a principio ficou assustado procurando uma saída, mas o garoto passou a mimá-lo com palavras, chaninho, chaninho e a jogar pedacinhos de lingüiça. Depois de algum tempo com o gato já bem calmo e confiante o garoto com um saco de estopa na mão entrou no galinheiro e passou a fazer lhe cafuné até que o gato ficasse a sua mercê e num gesto rápido pos o gato dentro do saco e amarrou a boca do mesmo, o bicho quando se sentiu preso pos – se a rolar pelo chão tentando escapar. O garoto esperou até que o gato cansou e ficou imóvel em um canto. O garoto então pegou um litro com querosene entrou no galinheiro encharcou o gato e levou o saco ate a porta, saiu desamarrou a boca e com um puxão tirou o saco para fora e fechou a porta. O gato encharcado e tonto pelo cheiro do querosene deu uns passos trôpegos e se encostou na tela procurando uma saída.
O garoto então riscou um fósforo e atirou sobre o gato e que confidenciou ao irmão que o bicho pulava como o filho do capeta até que caiu morto em um canto.
Logo depois ele limpou e se livrou de qualquer vestígio do ocorrido embrulhou o gato em um trapo velho e sem que ninguém visse, ao sair jogou por cima do muro da velha e levou com ele o saco que longe de casa fez um buraco e enterrou.
Quando chegou no córrego onde a turma nadava recomendou que se alguém perguntasse diriam que ele esteve ali o tempo todo logo depois do almoço, todos concordaram ou por medo ou por respeito; afinal o boi mocho era o chefe da turma.
Quando a dona soube do fato teve um derrame e não saiu mais da cama até morrer um mês depois.
Depois deste fato ele passou a ensinar filhote de gato a nadar com uma pedra amarrada nas patas traseiras e atirados em um lago no recinto da exposição para aprender com os peixes, pelo menos eles tentavam, com o olhar fixo nele, como que pedindo tire me daqui.
Bem voltemos ao sábado quando ele saiu para engraxar, Já passava das quatro horas quando ele chegou no ultimo freguês, a empregada atendeu e mandou eles entrarem pois os sapatos e botas já estavam todos ali na área de serviço da cozinha onde tinha um coberto que protegia do sol, o garoto pos se a trabalhar, depois de algum tempo a empregada apareceu com um prato na mão e dois pedaços de bolo e duas xícaras de café com leite, dois porque o irmão menor estava com ele, vocês comam e se quiserem mais e só pedir porque amanhã vão todos para a fazenda passar o domingo e a patroa não gosta de jogar nada fora.
Durante o trabalho apareceu um menino da casa de uns nove anos e começou a conversar com os garotos falou da fazenda e do pônei que tinha ganho, em dado momento disse, meu tio deu uma caixa de chicletes vocês querem, queremos sim responderam, ele enfiou a mão no bolso e deu um chiclete para cada um,que começaram a mascar e fazer bolas. Minutos depois o menino da casa entrou chamado pela mãe, foi quando o garoto foi até o tanque lavar as mãos e ficou observando tudo por ali, voltou então para o irmão e pediu me da seu chiclete, ele pegou juntou com o seu e fez uma bolota, voltou para o tanque que ficava junto a um pequeno banheiro que dava para o interior da casa, ficou por ali uns instantes depois voltou para o irmão e disse vai lavar as mãos que já terminamos e chamou a empregada.
Ela veio fizeram o acerto ela pegou o dinheiro com a patroa pagou o garoto e os acompanhou até o portão dizendo voltem sábado na mesma hora, o garoto respondeu baixinho pra si até amanhã, mas o irmão que ouviu perguntou porque até amanhã, por nada por nada respondeu.
À noite a mãe fez as balas cortou o papel e todos se puseram a embrulhar, pois era muito trabalhoso, depois de embrulhadas ela contou e se todas vendidas daria 120 mil reis um bom dinheiro, ajeitou na cesta e foram dormir.
No domingo cedo depois do café o garoto pegou uma chave de fenda e escondeu entre as balas apanhou a cesta e saiu acompanhado pelo irmão mais novo.
Já bem longe de casa o garoto passou a cesta para o irmão retirou a chave de fenda e disse, vá ate a praça da igreja e me espere lá até eu chegar e tomou outro rumo. O irmão obedeceu e lá chegando pos – se a esperar, meia hora, uma hora o relógio da matriz bateu dez horas ele apavorado com medo que algo tivesse acontecido, e eis que o irmão surge em uma rua da praça todo lampeiro e sorridente.
Chamou o irmão e foram ate um conjunto de pequenas casas em um quarteirão todo murado e com igreja, denominado Vila dos Pobres que era dirigida por freiras. Chegaram em um portão tocaram uma sineta e foram atendidos por uma freira. O garoto então disse, minha tia mandou entregar esta cesta de balas para os pobres ela pegou cesta agradeceu entrou esvaziou a mesma, e quando devolveu perguntou curiosa quem é sua tia. Ele deu um nome qualquer dizendo ela mora em colina, uma cidade vizinha, mas já foi embora e se despediu da freira.
O.b s era costume as freiras receberem donativos alimentos e guloseimas.
No caminho para tranqüilizar o irmão ele tirou varias notas do bolso e disse ta tudo resolvido e ninguém pode saber senão vamos pro juizado, e foram para o pimpão nadar.
Nessa época se quisesse assustar uma criança bastava falar do juizado e da perua que levava elas, se borravam enquanto Boi Mocho fazia gozação.
A tarde voltaram para casa, ele deu o dinheiro para a mãe que já estava preocupada com a demora e que estranhou o dinheiro graúdo, eu troquei na padaria e o dono em troca deu um lanche para cada um, o garoto tinha saída pra todas.
A mãe para compensar os filhos e como era generosa deu dinheiro pro cinema e pro sorvete, pois o pai estava pescando o que era um alivio para eles.
Você que esta lendo este relato deve estar curioso onde o garoto arranjou dinheiro para cobrir as balas, vou esclarecer.
Dias antes o garoto pegou o relógio no local onde havia escondido e procurou um s.r (X) que comprava muamba e ofereceu o relógio, O S.R (X) que já conhecia o garoto quis saber como ele havia conseguido e adiantou não quero mentira, pois preciso saber se posso confiar em você, o garoto contou como foi.
O s.r X ficou satisfeito examinou a peça e disse muito bem eu compro, mas pago dentro de uma semana, pois meu filho leva tudo para São Paulo pago quando ele voltar acertaram o preço e quando o garoto ia sair perguntou posso trazer mais coisas, eu sei onde pegar? Se for seguro pode, mas vou lhe dar uma dica se por a mão em um porta jóias ou em dinheiro leve só uma parte é pra confundir o dono.
Voltemos ao sábado na residência onde eles engraxavam sapatos. Quando o garoto pediu a bolota de chiclete para o irmão e fez uma bolota maior ele disfarçou foi ate o vitro do banheiro e a amassou no encaixe do encosto do vidro, pois ficaria uma fresta por onde poderia enfiar a ponta da chave de fenda e abrir o vitro.
Quando deixou o irmão na praça dirigiu se para a casa, lá depois de uma campanada e vendo que não havia ninguém pulou um muro e minutos depois estava dentro da casa vasculhou as gavetas sem desarrumar nada até que encontrou uma pequena caixa dentro um maço de notas e um anel de formatura separou algumas notas pegou o anel e deixou tudo como estava, saiu da casa tirou o chicle do vitro limpou as marcas do pé na parede com um pano do tanque e alguns minutos depois estava com o irmão.
Na segunda feira levou o anel para o X e quis contar como conseguiu, não disse quando você tiver alguma coisa pode trazer não me conte e nem pro seu irmão se desconfiar que você contou não quero mais você aqui, volte segunda feira para pegar o dinheiro.
Depois do primeiro furto veio uma sucessão deles. O garoto era abusado e desenvolveu um instinto para saber quando os moradores não estavam em casa.
Com muito dinheiro ia pescar quase todos os dias e como o rio era a cinco quilômetros ia de Biriba um pequeno táxi da marca Perfect, e com ele ia o inseparável Turquinho um amigo de folguedos.
Com muito dinheiro passou a comprar coisas, bolas de futebol bicicleta e até uma espingarda a coisa foi num crescente que começou a gerar comentários até que resolveu montar um time de futebol. .
O.b.s tudo que comprava ele guardava na casa de um casal de negros velhos seu Pedro e dona Lazinha por uns mil reis, pois não podia levar pra casa, tudo menos a espingarda, que escondia no mato.
Comprou uniforme para um time inteiro, depois do jogo levava os uniformes para uma mulher muito pobre lavar e lá ficava até próximo jogo. Corria tudo bem até que um moleque burguesinho que participava do time foi vestido com o uniforme para casa, A mãe quis saber de quem era e como ele conseguiu e deu uma prensa no filho ele então disse que era do boi mocho. A mulher era pacata calma educada, mas tinha uma cunhada que era uma desbocada mal educada e tinha bigode, logo soube, pois era vizinha, saiu na rua e fez um escândalo que em instantes a esquina estava fervilhando de mães querendo saber o que tinha acontecido.
A mãe do boi mocho uma mulher calma, só era brava com uma cinta na mão, e um lombo dando sopa, pacata ela disse calma meu filho vai chegar, e explicar tudo.
Mas a Ester bigode punha fogo dizendo cobras e lagartos e um tumulto se formou, mães querendo saber isto e aquilo um zum zum e ninguém se entendia, não havia um pai participando estavam todos trabalhando todos não um estava pescando, homem só tinha um,manco e baixinho o Elvecio.
De repente eis quem vem lá todo lampeiro, mas que já tinha sido avisado pelo seu fiel escudeiro que tinha a cabeça com formato de uma bala de fuzil de apelido Caxambu, era o próprio boi mocho.
Assim que foi questionado ele explicou, um sábado gente tava jogando lá no campinho quando um homem ficou vendo a gente jogar, depois desse dia ele veio varias vezes e ficava olhando de longe, ate que no outro sábado eu estava engraxando lá na praça,. Ele veio e pediu para engraxar e ficou conversando, ele disse que era caixeiro viajante e que viajava muito e que nunca tinha visto uma turma jogar tão bem, e que ele não aprendeu a jogar porque foi criado num orfanato e la não tinha futebol. Disse também que não vinha mais pra Barretos porque ia trabalhar no escritório de São Paulo e que ia embora naquele dia e como tinha ganho muito dinheiro nessa região queria dar um presente para algumas crianças pobres da cidade um jogo de camisas e duas bolas, e como era domingo e as lojas estavam fechadas ele confiou o dinheiro comigo pois achou que eu parecia o líder e na outra semana eu comprei tudo, o dinheiro que sobrou eu guardei pra quando minha mãe precisar, correu ate sua casa e voltou com algumas moedas.
Aquela era uma mentira deslavada o cinismo do garoto não tinha limites
Na rua o silencio era total não se ouvia um zumbido teve mãe que verteu lagrimas. A mãe do menino pivô daquela confusão mulher de uma certa posse chamou a mãe do boi mocho de lado e com lagrimas nos olhos disse vou dar lhe o dinheiro do uniforme, pois sei das suas dificuldades a senhora tem um bom filho,algumas das mulheres seguiu o exemplo da primeira e também se comprometeram a pagar os uniformes e o parabenizaram por ser um bom filho e um bom amigo, e ficou combinado que a partir daquele dia todos levariam o uniforme para lavar em casa.
A mãe pegou o filho pela mão dizendo eu sabia que ele tinha uma explicação coração de mãe não se engana e foi pra casa. Mal sabia ela o que vinha pela frente.
Depois desse episodio o time continuou; e cada um levava o uniforme para lavar em casa e tudo voltou a rotina.
Depois do susto o garoto se acalmou um pouco, mas foi por pouco tempo não era tanto pelo dinheiro mas pela aventura pois ele já fazia umas incursões pelas cidades próximas rendendo um bom dinheiro, ele tinha uma quantia que dava para se manter por muito tempo,dinheiro que ele mantinha em latas de aveia pois elas tinham tampa que protegia o conteúdo, ele as mantinha enterradas em lugares diferentes para não ter surpresas.
Num seu descuido ao mudar uma lata de lugar não percebeu que o Valdir estava observando, o garoto pivô da confusão.
No domingo ele estava na piscina quando ouviu do Turquinho é rapaz o Valdir tava ontem na quermesse cheio de grana e gastando a béssa.
Aquilo foi como um raio pro boi mocho ele disfarçou foi ate o vestiário trocou de roupa e zuniu para onde estava escondida as latas, na terceira lata ele percebeu que não estava como ele deixou abriu contou e,esse desgraçado me roubou mudou as latas de lugar, foi ate a bicicletaria do seu Ataíde alugou uma bicicleta e saiu como um foguete a procura do Valdir depois de procurar em toda parte e não encontrar resolveu esperar.
A noite sem desconfiar eis que chega o Valdir na quermesse quando viu o boi mocho fingiu calma e que estava tudo bem, boi mocho chegou pra ele numa boa, oi Valdir tudo bem; passou o braço pelo ombro e disse vamos da uma volta. Valdir começou a andar tremulo e quase chorando perguntou o que você quer, calma disse o outro você sabe o que eu quero é só me devolver e ta tudo bem, ta bom ta bom vamos la pegar, foram ate o pontilhão da estrada de ferro o dinheiro estava embaixo de um dormente em um embornal, Boi mocho contou e disse falta dês mil reis, vê quanto você tem no bolso; Valdir tirou o que tinha no bolso e entregou ao outro; ele contou e disse você me deve quatro mil reis e vai pagar timtim por timtim encostou um canivete no menino e disse se você contar para alguém abro sua barriga seu riquinho de merda a seguir deu lhe um surra e foi embora.
Quando chegou em casa a mãe indagou o que tinha acontecido, Valdir respondeu foi os moleques da vila Nova, Vila Nova era uma espécie de favela que ficava no extremo da cidade onde a maioria eram negros a escoria da cidade sempre arrumando confusão quando vinham para o centro.
O tempo passando e o garoto cada vez mais ousado a mãe varias vezes chamada na escola ameaça de expulsão neste caso a tia interferia, pois era amiga da diretora. Às vezes ele extrapolava rodava pião na classe, quando posto de castigo ele saia pra fora da sala e ia para o pátio fazendo pirraça, era um tormento.
Foi nessa época que foi transferido para a escola um professor de nome Evaristo um sujeito baixinho carrancudo sempre de terno e uma gravata borboleta que lhe dava uma aparência bizarra.
Em pouco tempo começaram os atritos entre os dois e o garoto era posto de castigo em frente a turma onde ficava fazendo caretas atrapalhando a aula ate que fosse mandado para seu lugar
Essa briga de gato e rato durou ate que o garoto extrapolou de vez, ele havia capturado dois enormes escorpiões que mantinha dentro de um vidro com tampa furada e os alimentava com baratas vivas.
Certo dia ele levou o vidro para a sala escondido em uma pequena sacola, no vidro alem dos escorpiões havia varias baratas vivas.
Num dado momento sem que ninguém visse, ele abriu o vidro e os bichos começaram a se espalhar pela sala, foi um deus nos acuda e formou se um tumulto foi quando alguém gritou tem escorpião aqui, ai virou um caos todos correram para a saída querendo sair ao mesmo tempo, crianças se atropelando caindo foi um milagre ninguém se machucar.
Depois que todos saíram olharam para dentro e viram o professôr em cima da cadeira, um figura ridícula.
Depois que tudo se acalmou vieram o zelador e algumas faxineiras vasculharam a sala e nada de baratas que sumiram pelas frestas, mas encontraram os escorpiões e os mataram e que pela afirmação das crianças eram dois, uma das faxineiras achou o vidro e a tampa que entregou ao professor,ele olhou para o garoto com um sorriso de triunfo.
Depois de dispensar as crianças para que pusessem inseticida na sala o professor pegou o garoto pelo braço pegou uma régua e deu lhe umas reguadas e o levou para a diretoria,lá chegando entraram, a diretora que havia tomado ciência do fato perguntou e agora rapazinho qual a explicação, O garoto sem pestanejar disse foi um acidente eu trouxe o vidro para o professor Willian eu ia entregar na saída quando ele chegasse ( Willian era professor de biologia ) porque não deixou na secretaria quando chegou, eu queria fazer uma surpresa pra ele respondeu. Você tem consciência que pos as crianças em perigo, tenho por isso peço desculpas. Por uns segundos ela ficou pensativa depois disse vou pensar o que fazer e dispensou os dois, foi um alivio a saída dos dois, pois não simpatizava com aquele tipo grotesco, e o garoto se não fosse pela amiga tia dele já o teria expulso mas ao mesmo tempo queria preserva lo pois ele tinha potencial só estava sendo mal aproveitado, Se soubesse de todo seu potencial ruim já teria se livrado dele, mas não ia demorar. No corredor o garoto chamou oi professor este parou e perguntou o que você quer, quero que o s.r saiba que aquelas reguadas não vai ficar assim, este virou as costas e seguiu seu caminho, o garoto foi para a rua ruminando seu ódio.
No outro dia assim que chegou na escola foi abordado pelo bedel que o levou a diretoria. Assim que entrou viu que ela estava com um envelope na mão, ela sem delongas disse vá para casa e entregue este envelope a seus pais você esta suspenso por três dias, volte na segunda feira.
Ele pegou o envelope saiu da sala sem nada dizer e foi embora, chegando em casa entregou para a mãe dizendo fui suspenso, a mãe com a calma que lhe era peculiar apanhou uma correia resto de uma cela de cavalo que ficava pendurada no batente da porta e deu lhe uma surra, a cada chibatada ele rangia os dentes e não vertia uma lagrima, cada pancada era mais forte, parecia que ela estava chibatando todas as suas frustaçoes, nos dias vindouros ele não saiu de casa, pois não podia vestir camisa tal ficou suas costas.
Certa ocasião ela antes de surrar o filho mais novo nove anos preparou uma salmoura por ele gritar para o irmão tomar cuidado senão o quadrado ia cair na casa da velha louca, era a vizinha que nem estava em casa.
Foi so uma vez pois o sal queimou as costas do menino e virou ferida, isto a deixou assustada.
Depois da surra o garoto voltou sua ira para o professor. Na segunda feira ele cabulou a aula e foi ate um matagal onde mantinha escondida a espingarda de caçar pássaros, Depois de esvaziar um cartucho e prepara lo com chumbo grosso enrolou a espingarda em um pedaço de lona se dirigiu para um local ermo da cidade no caminho por onde o professor passava para ir para casa, ele morava nos arredores da cidade numa espécie de chácara, lá chegando escondeu a arma numa moita e pos se a esperar.
Depois de algum tempo eis que a uma certa distancia ele avista o professor, apanhou a espingarda e se escondeu numa moita ao lado do caminho. Quando o professor passou por ele o garoto saiu da moita e pos se a segui lo, depois de alguns metros vendo que ele não se apercebeu de sua presença ele chamou oi professor este então parou se virou e olhou para o menino, quando viu a espingarda apontada para ele gritou meu deus e saiu correndo o garoto correu atrás apontou e atirou, o homem deu um berro quando sentiu o chumbo quente queimando sua bunda. Depois do tiro o garoto embrulhou a espingarda e calmamente foi esconde lá no mato.
O professor correu ate em casa e telefonou para a farmácia Santo André o dono um senhor idoso, farmacêutico e enfermeiro que era como um medico tal sua experiência e pediu para ele atende lo.
La chegando tomou conhecimento do ocorrido e informado pelo professor que o tiro tinha vindo do mato sem que ele visse quem foi, e que teria sido um acidente, mas ele estava era com medo de apontar o autor.
O enfermeiro examinou o ferimento dizendo que não era grave era só tirar os grãos de chumbo que estava na superfície do glúteo, desinfetar e tomar um antibiótico para evitar infecçao por uns dias ia ter um incomodo para sentar e nada mais.
Terminado o procedimento o enfermeiro recebeu por seu trabalho ficou de mandar o medicamento e se despediu.
O professor recomendou s.r André gostaria que isso ficasse entre nós afinal foi um acidente sem gravidade, tudo bem respondeu se cuide e foi embora.
O professor telefonou para a diretora e pediu para ela passar em sua casa depois do expediente pois tinha um assunto importante e ele não tinha condições físicas de ir ate a escola.
Após o expediente a diretora preocupada foi ate a casa do professor que relatou o que realmente tinha acontecido, após recrimina lo pelas reguadas comunicou uma licença ate a recuperação e já sabia a atitude a tomar,.Saindo dali foi direta a casa do garoto desejando que ele não estivesse em casa.
Chegando na casa conversou com a mãe e pediu carta a da suspensão, no que foi atendida, ela então convidou a mãe para dar uma volta, pois precisava conversar em particular.
As duas saíram da casa entraram no carro e foram até uma praça do outro lado da cidade, lá chegando sentaram em um banco e a diretora explicou tudo que tinha acontecido, e para sua surpresa a mãe não se alterou não moveu um músculo do rosto, a diretora continuou, embora eu corra um risco vou abafar tudo o professor não vai dar queixa e não quero que a senhora castigue o garoto, pois o professor esta apavorado com o que ele possa fazer.
Até o dia de hoje aturei o menino por sua irmã e pelo potencial dele, mas infelizmente não posso mais ter essa responsabilidade,.Vou destruir esta carta e amanhã a sra compareça na diretoria as duas horas e que deus me perdoe pois em 22 anos de magistério e cuidando de crianças e a primeira vez que puno uma, ele vai ser expulso, e as lagrimas rolaram pelo rosto.
Depois deste fato a tia foi falar com os pais do garoto e colocou para eles por tudo que aconteceu e que provavelmente iria acontecer, no futuro o garoto poderia ir para o juizado de menores em São Paulo onde os garotos do interior eram internados, e o pai também como responsável poderia ser apenado por negligencia, e fazer vistas grossas. Sugeriu então que eles voltassem para São Paulo, pois Barretos era pequena para a índole do afilhado e sobrinho, e onde o pai poderia arrumar trabalho com mais facilidade, e estava disposta a ajudar no que fosse preciso para a mudança.
O pai assustado com a possibilidade de ser intimado pelo Juiz com a situação financeira precária e dividas acatou a sugestão.
A semana que vem tenho que ir a São Paulo e vou procurar sua irmã para que ela ajude a conseguir uma casa para alugar, a casa daqui eu me encarrego de alugar e lhe mando o dinheiro, e assim ficou combinado.
Em São Paulo ela procurou a irmã do cunhado e explicou o que estava acontecendo de imediato disse que estava tudo bem que não precisava se preocupar que ela tinha uma casa grande e vazia no subúrbio e era só trazer a mudança, e ficou combinado de telefonar avisando a data, que ela iria pegar a família na estação do trem.
Chegando em Barretos comunicou a irmã, que logo se pos a fazer os preparativos para a mudança.
Quem não gostou da idéia de ir para São Paulo foi o sobrinho, por isso ficou com raiva da tia pois achava que ela era a culpada. Ficou então combinado que eles viajassem num domingo um dia menos tumultuado, a tia de SP avisada era só esperar o dia do embarque.
Chegamos no sábado a tia precisou ir ate a cidade de Colina experimentar um vestido de noiva de uma cliente o marido foi junto.
O garoto ciente do fato e com a casa vazia viu uma oportunidade de arrumar mais dinheiro, foi ate a casa entrou pelo vitro e pos se a procurar um cofre de parede, pois sabia que ali havia um, procurou ate que encontrou, pos se então a tentar abri lo mexeu mexeu até que plaq o cofre se abriu. Rapidamente apossou se do dinheiro e saiu da casa sem ser notado, escondeu o dinheiro em uma das latas, mas antes separou uma parte procurou o turquinho e o caxambu e dividiu entre eles, a espingarda deu pro turquinho.
Em casa estava tudo preparado para a mudança passagens compradas era só esperar.
A noite a tia apareceu em casa para as despedidas, deu a irmã uma pequena quantia em dinheiro dizendo que o cofre estava engripado e o tecnico só viria na segunda feira pois a firma era em Rio Preto longe de Barretos e que mandaria algum dinheiro pela sua cunhada, se despediu e foi embora.
O garoto com a desculpa de despedir de um amigo foi ate seu dinheiro tirou das latas colocou em um saco de papel e enrolou em um embornal, chegando em casa sem que ninguém percebesse enfiou o embornal em uma trouxa de roupa, a partir daquele momento passou a corujar aquela trouxa.
Domingo as cinco da manhã o caminhão encostou, e em uma hora estava carregado. Colocaram a lona e partiu, o pai foi junto,A família tal qual retirantes se dirigiram para a estação para mais uma ciganada.

Traseira de caminhão.

Viajando por uma estrada vi uma frase na traseira de um caminhão, achei interessante
E na minha cabeça bateu uma inspiração entre pobre e rico vou fazer comparação
Praia de rico é em búzios regada a chope gelado e camarão
A de pobre é Perequê com frango frio cachaça e limão
Viagem de rico em 747 que é o melhor avião
A de pobre é em ônibus velho
E não sabe se chega ou não
Férias de rico é em hotel de praia com sauna, banho, imersão e piscina
A de pobre é bebendo cachaça, no boteco da esquina
Rico vai ao banheiro faz um trôço bem formado, se lava com chuveirinho sai de lá bem asseado
Pobre vai na privada, usa um jornal rasgado, ele sai de lá com o traseiro lambuzado
Serenata de rico pra sua namorada é com violão violino e um cantor só
A de pobre é com um bando de bêbados tocando forró
Carro de rico e limpo, cheiroso, bem cuidado
O de pobre sujo, fedido e maltratado e às vezes, tem até o chão furado
Filho de rico é saudável sempre alegre correndo
O de pobre é esquálido e nada entendendo, coçando bicho no pé, com o nariz escorrendo
Sapato de rico, de butique, de pelica e cromo alemão...
O de pobre é couro de bode de brechó e de terceira mão
Almoço de rico é iguaria num recinto duplex
O de pobre é no banco do jardim, comendo marmitex
Filho de rico vai no troninho e o bumbum ele banha
O de pobre sempre sujo tem até teia de aranha
Filho de rico na doceria come doce se fartando
E o de pobre na vitrine só olhando, vem o dono e com um cascudo vai o enxotando
Filho de rico passa correndo, ali vai um campeão
O de pobre quando corre, pega ele que é ladrão
Filho de rico pega resfriado e fica dengoso
O de pobre pega gripe, ele está tuberculoso...
Cabelo de rico quando é comprido é brilhante e charmoso
O de pobre e opaco é sem vida, e é horroroso
Moça rica de saia curta elogios ela ganha
Moça pobre quando usa é chamada de piranha
Rico toma chope em copo de cristal, tira gosto é camarão
Pobre toma cerveja em copo de requeijão, tira gosto é cachaça com sal e com limão
Mulher rica quando canta, no mais é desafinada
Mulher pobre desafina, ela é uma esguelada...
Moça rica passeia a noite, ela não chama atenção
Moça pobre é piranha e levada pro rabecão
Transa de rico é em motel de luxo decorado com maior critério
A de pobre é com mulher feia atrás do cemitério

Vou parar com brincadeira não é nada disso não
Rico tem com o pobre muita consideração
Se pudesse pegava todos e jogava no lixão.

Walter

sábado, 9 de junho de 2007

O Escorpião de Aço - A Vingança do Dourado


Tudo começou num sábado, numa noite quente na cidade de Barretos, estávamos eu e meu irmão de férias na casa dos meus pais e fomos convidados para ir a uma fazenda fazer uma pamonhada. Era época de milho verde e este era um costume de famílias da região. Nós gostamos do convite, pois aproveitaríamos para pescar – este era um dos objetivos de nossas férias, e na fazenda passava o rio velho que era bem piscoso.
Depois de um café com biscoito de polvilho, ajeitamos a traia no carro, o pessoal se acomodou e partimos para a estrada.

Era uma linda manhã de dezembro e os primeiros raios de sol surgiam no horizonte, um prenúncio de muito calor, a brisa fresca batia em nosso rosto numa sensação agradável, o cheiro (ah!) o cheiro de terra úmida nos embriagava como um néctar que só a natureza pode nos oferecer, pois havia caído uma chuva leve durante a noite.

Depois de uma hora e meia, chegamos na fazenda, entramos por um mata burro e percorremos uma estrada de dois quilômetros com muita costela de vaca. Chegamos na sede da fazenda, era uma imensa casa com uma área coberta em toda sua volta protegendo do sol e da chuva e a uma certa distância ficava a casa do capataz e outras onde morava alguns trabalhadores, o proprietário morava na cidade. Embaixo de uma mangueira se encontrava o José, um parente juntamente com um homem alto de vasto bigode com chapéu e calçado com alpercatas. Ele parecia um rude peão, mas era o capataz. Fomos apresentados e ele logo se dirigiu para uma mesa coberta com uma alva toalha, descobriu a mesa e surgiu bolo de fubá, broas, biscoito e até mandioca frita.

Apresentou a esposa e pediu a ela que trouxesse o café.

- Agora vamos comer e depois trabalhar.

Dito isso foi até uma lona que cobria um monturro, apontou dizendo: - Um presente pra vocês. Puxou a lona e surgiu uma montanha de espigas, após o deglute todos se puseram a tirar palha do milho, quando tinha uma boa quantidade sem palha, minha mãe distribuiu as tarefas: limpar, ralar e coar o creme do milho.
Alguns continuaram a tirar a palha, só paramos para o almoço, depois do mesmo, continuamos a tarefa. Às duas horas estava tudo pronto, só faltava cozinhar as pamonhas.
Eu, meu pai e meu irmão pegamos a traia de pesca, entramos no carro e fomos pro rio que ficava a dois quilômetros, lá chegando nos embrenhamos no mato em busca de um lugar ideal para pescar, quando encontramos nos acomodamos, cevamos com milho seco e iniciamos a pescaria. Foi uma festa, depois de algum tempo o viveiro estava quase cheio, foi quando de repente os peixes deixaram de beliscar, meu pai experiente observou: - Tem cobra ou peixe grande por perto.

Dito isso, perguntou se tínhamos anzol grande com linha de aço na ponta, pois linha de náilon peixe grande corta no dente. Meu irmão tinha, armou com um peixe vivo e soltou no rio como isca. Dez minutos depois a linha esticou e um Dourado pulou no ar tentando escapar. Foi difícil tirá-lo do rio, justificando a fama de tigre dos rios. Ele media cerca de setenta centímetros, um belo exemplar. Meu irmão não cabia em si de contente dizendo que ia salgá-lo e levar para Barretos, tirar umas fotos para mostrar aos amigos em São Paulo. Ele havia deixado a máquina de fotos em Barretos. Encerramos a pescaria, pois a noite se aproximava e fomos embora. Quando chegamos na fazenda, o José estava nos esperando, pois íamos dormir no sítio dele, pois não cabia todos na casa do capataz.

Minha mãe se prontificou a limpar e acondicionar os peixes, pois na fazenda tinha luz elétrica e geladeira. Meu irmão pediu a ela que salgasse o Dourado que chamava a atenção de todos, pois nunca se havia pescado um daquele tamanho, menos o capataz que estava recolhendo umas poucas cabeças de gado, pois a fazenda era para formar pasto para cilagem e o gado era para produzir carne e leite para o gasto na fazenda. Chegando no sítio, tomamos um banho, jantamos e fomos tomar um café, sentados na varanda. Depois de um bom papo fomos dormir.

No dia seguinte, saímos bem cedo, deixamos o José perto da sede e fomos direto para o rio. Depois iríamos almoçar na fazenda e a tarde iríamos para Barretos. Lá pelas dez horas, o Zé apareceu a cavalo onde estávamos, chamou meu irmão e disse:

- Tenho uma notícia que você não vai gostar. Ontem depois que fomos pro sítio, o Durval (capataz) apanhou o Dourado deu pra esposa retalhar temperar para fazer assado para o almoço de hoje. Agora ele já deve estar enrolado em folha de bananeira sobre o braseiro.

Meu irmão ficou lívido de raiva, mas nada disse, pois o homem estava na casa dele. Bem, adeus fotos. Foi uma pena porque ele adorava mostrar e falar de suas pescarias, um assunto que ele dominava como poucos. Quando chegamos para almoçar seu mau-humor foi quebrado por um gole de conhaque e o som da viola e da música que o Durval cantava, meu irmão era fã de música sertaneja. Depois do almoço, que estava uma delícia – pois a dona além de muito simpática, era ótima cozinheira – nos sentamos sob a mangueira. Um café, um papo furado e relaxamento.

Lá pelas quatro horas, arrumamos a traia, uma cesta de pamonha pra levar, nos despedimos e ficamos de voltar na terça, pois tínhamos ainda vários dias de férias. Entramos no carro e partimos. À noite, em casa, recebemos umas visitas, entre elas meu cunhado Coréia que quando soube do peixe começou a fazer gozação, dizendo que era conversa de pescador, o que deixou meu irmão irritado e blasfemando contra o Durval.

Na segunda-feira resolvemos levar algo para agradecer a hospitalidade docasal, minha mãe sugeriu que levássemos doce de leite, pois o Durval não permitia que usasse leite para doce, eles só usavam para fazer queijo que ajudava na renda. Fomos, então, à casa de um casal que fazia doce de leite tipo Embaré em barra e cremoso, com uma pitada de café que era uma delícia. Lá chegando, fomos recebidos por dois gansos mais bravos que cachorro, fechados os gansos, entramos, compramos dois quilos de cada e fomos embora.

Na terça-feira levantamos de madrugada e fomos pra fazenda, chegamos ainda no escuro paramos o carro embaixo da mangueira e aguardamos alguém aparecer, o silêncio era profundo. Passado algum tempo, o Durval e os dois filhos de nove e onze anos apareceram.

- Chegue mais que o café tá saindo.

Saímos do carro, meu irmão com a caixa de traia na mão, pois tinha que preparar umas linhadas e separar uns anzóis. Os primeiros raios de sol começavam a surgir no horizonte, sentamos em um banco comprido que estava encostado na parede, meu irmão começou manipular a traia sob o olhar curioso dos garotos, ele notando umas varas sob o beiral perguntou: - Vocês gostam de pescar?

- Ah, gostamos sim, mas não temos linha nem anzol, enroscou tudo no rio, mas meu vai comprar mais. Não vai pai?, disse um dos meninos.

- Vou sim. Respondeu ele que estava sentado em tronco esperando o café. Meu irmão então perguntou: - Eu posso dar uns anzóis para eles, pois tenho bastante?

- Pode sim. Mas tomem cuidado com esses anzóis noruegueses, pois quando fisga, o peixe só escapa morto.

Meu irmão separou linha e anzol, esvaziou dois tubos de chumbada em um compartimento da caixa e colocou os anzóis no tubo.

- Quero um desse aqui também! Falou o menino apontando para um anzol de lambada, que são três anzóis soldados em forma de ancora, de aproximadamente três centímetros. Um anzol perigoso. Meu irmão disse “deste eu tenho três, vou dar dois pra vocês e ficar com um”. Eles, então, pegaram os tubos, despejaram no banco e começaram a contar os anzóis. Foi quando o pai ralhou e mandou guardar, meu irmão então pegou os tubos e disse “deixe que eu guardo”, colocou os anzóis no recipiente fechou e entregou aos meninos que foram guardá-los. Um detalhe que eu só soube depois: quando colocou os anzóis no tubo meu irmão ficou com um escondido na palma da mão.

Logo a dona da casa chamou: - Pode vir que café ta pronto!

Meu irmão ao se levantar tropeçou numa botina que estava no chão no final do banco, ele então se abaixou pegou a botina e pôs no lugar. Antes de entrarmos, meu irmão foi até o carro pegou a sacola com o doce de leite entregou ao Durval que agradeceu com entusiasmo. Tomamos café com bolinho de chuva que estava ótimo. Depois do café, saímos, o Durval batendo na barriga feliz dizia: “agora sim, pois saco vazio não para em pé”. Dito isso, acendeu um cigarro chamou os garotos “agora vamos tratar dos porcos e depois examinar as cercas”.

Nós aproveitamos o embalo, dissemos até mais e fomos em direção ao carro para ir pescar. Já na entrada do mangueirão, ou chiqueiro, o Durval gritou: “o almoço é as onze e hoje tem peixe frito”. Peixe que pescamos no domingo. Meu irmão resmungou: “talvez tenha mais que almoço”, o que não entendi, perguntei, mas ele disse “deixa pra lá, não esquenta”.

Durante o trajeto até o rio, notei uma mudança nele. Parecia mais alegre, mas não comentei nada. Passada uma hora que estávamos pescando eis que ouvimos gritos que vinha da estrada.

- Moço! Oi moço, meu pai ta chamando!

A uns cinqüenta metros, o filho do Durval montado a cavalo em pelo acenava e gritava chamando, acenei pra ele e fui ver o que era, o garoto chorava e disse que quando o pai calçou a botina um bicho mordeu o pé dele e quando ele tentava tirar o bicho mordia mais forte.

- Meu pai acha que e escorpião.

Eu disse para o garoto ir pra casa que já estávamos indo. Fui até meu irmão e contei o que houve e para minha surpresa ele deu um risinho sarcástico dizendo “isto não é nada” e calmamente juntou as traias. Aquela atitude me irritou e quase brigamos, pegou o carro e calmamente dirigiu até a fazenda, aumentando minha irritação. Chegando na fazenda, vimos o Durval sentado no banco um pé com alpercata outro com botina, pálido como neve. Perguntei o que houve, ele explicou:

- Quando calcei a botina, alguma coisa ferroou meu pé e quando tento tirar ele ferroa mais forte.

Meu irmão pensou e disse “acho que é escorpião”, o homem quase teve um troço.

- Bem o que o senhor quer que a gente faça?
- Me leve até a currutela* pra ver o que o Mário pode fazer.

Mario era um enfermeiro que atendia o pessoal da currutela e da vizinhança, em um pequeno posto de saúde de primeiros socorros. O médico vinha uma vez por semana. Um peão da fazenda tinha feito um torniquete para estacionar o veneno, meu irmão tirou dizendo o sangue tem de correr rápido para diluir o veneno. Pediu que eu pegasse um litro de conhaque que estava no carro deu o litro pro Durval e este disse que não bebia, mas meu irmão insistiu que precisava, pois seria bom. Ele tomou um gole meu irmão retrucou “é pra tomar de verdade, o senhor não quer morrer quer? Pode ter uma parada do coração, aí babau”.

Ele pôs o litro na boca tomou uma talagada que foi até um quarto de litro, pegamos ele pelas pernas e pelos braços ajeitamos no carro e partimos. Uma coisa me preocupava: as costelas de vaca até o asfalto. Dito e feito, quando entramos na estradinha meu irmão acelerou forte o homem gritava berrava implorava à Nossa Senhora dizendo que o bicho tava matando ele.

- Pára o carro pelo amor de Deus!

Meu irmão dizia “não posso, se não o senhor morre”. Enfim chegamos no asfalto, meu irmão passou o litro pro homem e disse “tome mais um gole, vai ser bom”, ele tomou e foi até a metade do litro. Quando chegamos no posto, tiramos ele do carro, levamos psra dentro e colocamos em uma maca. E ele gemendo. Explicamos ao enfermeiro o que estava havendo, ele deu uma olhada e disse “vou ter que cortar a botina para tirar o bicho”.

O Durval retrucou com a voz pastosa “cortar a botina não, ela é novinha”. O enfermeiro percebendo a voz, cheirou o hálito dele e disse “mas ele está bêbado! O Durval não bebe!”. Meu irmão explicou ele estava sentindo muita dor eu ele deu lhe uns goles. O enfermeiro apanhou uma correia que usava para imobilizar cavalos e bois, pois ele também era veterinário e prendeu as pernas na maca. Nesta altura havia algumas pessoas em volta.

- Vocês seguram os braços que vou tirar a botina no tranco mas tomem cuidado pois o escorpião pode cair em cima de alguém e meter o ferrão pois o bicho vai sair furioso.

Ccobriu o Durval com um lençol pra não cair em cima dele, segurou o calcanhar e o bico da botina contou ate três deu um puxão e arrancou a botina. O Durval deu um berro que parecia um touro sendo castrado e desmaiou, todos pularam para trás e nada de escorpião. Quando olharam para o pé que estava roxo e inchado, que escorpião que nada! Ele tinha era um anzol de lambada com duas pontas fisgadas no peito do pé. Logo ele estava voltando a si, o enfermeiro deu sinal para que o segurassem aplicou um anestésico no local, cortou e tirou o anzol. Deu uns pontos e enfaixou. Entregou o anzol pro Durval e disse “eis aqui o seu escorpião”, ele olhou como se não tivesse entendendo nada, virou para o meu irmão que estava com um sorriso sarcástico no rosto e disse “me dá mais um gole daquele mel”. Meu irmão foi até o carro pegou o litro e algo mais que colocou na mão do Durval, que ficou com dois anzóis.

Aí eu entendi o que houve, quando tropeçou na botina e a pôs no lugar, ele colocou um dos anzóis dos garotos dentro da mesma, um dos garotos ia pagar o pato, uma pena. Mas este é o meu irmão. O Durval já meio bêbado pegou o litro pôs na boca e tomou o resto, virou-se para meu irmão e perguntou qual era seu nome mesmo. Ele com um sorriso cínico que lhe era peculiar respondeu Luiz, Luiz Dourado.

* uma pequena comunidade

quarta-feira, 23 de maio de 2007

O tiro saiu pela culatra, ou melhor, entrou pela garrafa

O ônibus Rápido Oeste entrou no estacionamento do restaurante Rio Dalva e parou.O motorista veio até o corredor do ônibus e anunciou uma parada de vinte minutos.

- Para os passageiros de Barretos, fim de viagem queiram descer, por favor, e obrigado.

O posto ficava na entrada da cidade a três quilômetros. Havia quatro passageiros para a cidade e entre eles uma bela mulher de aproximadamente vinte e oito anos. Ela portava uma mala e uma frasqueira, seu porte e sua beleza chamava a atenção de todos.

Entrou no restaurante ocupou uma mesa e pediu um refrigerante, pois o calor estava sufocante. Na mesa ao lado havia um homem que discretamente a observava. Era um tipo de porte altivo cabelos ligeiramente grisalhos vestido com roupas de linho claro, próprias para aquele calor, podia se dizer um homem charmoso.O garçom serviu a moça, ela acendeu um cigarro e fumando saboreava o refrigerante. Quando terminou, acenou para o garçom que prontamente a atendeu, ela então perguntou como fazer para conseguir um táxi.

- Posso ligar para a cidade e chamar um, respondeu ele.

Ela acentiu e ele foi até o telefone, logo voltou dizendo que o táxi ia demorar meia hora. Ela sorriu contrariada, mas não tinha o que fazer, pagou a conta e se pôs a esperar. Foi quando o homem ao lado levantou, aproximou-se e depois de se apresentar, ofereceu uma carona, pois ele morava na cidade. Ela aceitou, mas perguntou como ficaria o táxi.

- Deixe que eu resolvo isso.

Foi até o garçom e disse qualquer coisa, a seguir o garçom foi até a moça apanhou a mala e levou até o carro. Era um carro importado que parecia ter saído da loja, a moça ficou impressionada.

Ela entrou no carro e se acomodou, ele, então, perguntou onde a deixava, ela respondeu que ia para o bairro Recanto das Flores, na Chácara Arco-Íris.Ele, homem experiente, já tinha desconfiado que ela era uma meretriz, aquele bairro era a zona de meretrício. A Chácara das Flores pertencia a uma cortesã de nome Joana que no passado foi uma bela mulher também meretriz, sua casa só hospedava mulheres de classe e de fino trato e era freqüentada por ricos fazendeiros, comerciantes e onde os jovens ricos davam iniciação a sua vida sexual. No passado a zona ficava em um bairro próximo ao centro, mas com o crescimento da cidade houve necessidade de afastá-la.

Quando era na zona central, as casas eram identificadas com luzes vermelhas expostas na frente. Com a pressão das senhoras beatas a Câmara e o Prefeito aprovaram um projeto para afastar a zona para a periferia. Escolhido o local e aprovado pela comunidade, a Prefeitura construiu as casas e um posto de saúde, enfim, toda a infra-estrutura para a segurança dos futuros freqüentadores. Depois de tudo pronto, a prefeitura fez uma permuta com as proprietárias, fizeram a mudança e o problema ficou resolvido. É neste cenário que vamos encontrar aquela bela mulher e o guapo cinqüentão. No trajeto, trocaram poucas palavras pois havia um clima de constrangimento entre os dois .

Quando estacionou em frente à chácara ele fez menção de descer para abrir a porta e pegar a mala, mas ela se interpôs

- Não, por favor, não desça.

Ele ficou estático se sentindo como uma criança que foi flagrada furtando um doce da vitrine. Ela desceu, pegou a mala rodeou o carro e foi até a janela, estendeu-lhe a mão, agradeceu e disse "meu nome é Gilda", afastou-se e adentrou no corredor da chácara, que de chácara só tinha o nome. Era uma bela casa com um vasto terreno gramado, cercado por pinheiros e um muro relativamente alto. No fundo uma piscina bem dimensionada, enfim, um refúgio de prazer. Por alguns segundos ele ficou ali parado, sua vontade era descer do carro seguir aquela mulher e com ela fazer um programa, mas logo caiu em si deu partida no carro e foi embora. Nos dias que se passaram ele não conseguia tirar aquela mulher do pensamento.

Um casamento de sucesso

Nosso personagem cujo nome é Roberto apareceu na cidade no começo dos anos 50 e alugou um apartamento em um hotel. Depois de alguns dias, andou pela cidade e visitou fazendas pela região. Depois conversou com o gerente do hotel e disse que ia se estabelecer na cidade. Na manhã seguinte saiu à procura de um imóvel para alugar, pois pretendia montar um escritório de compra e venda de gado – e a região era de grandes fazendeiros criadores de gado. Corretor era uma atividade nova, mas essencial para grandes negócios. Ele encontrou duas salas no centro, alugou e com anuência do proprietário abriu uma comunicação entre as paredes e colocou uma porta para maior privacidade.

Contratou uma secretária e colocou seu logotipo na porta. Isto feito foi até o jornal e a rádio local e contratou um anúncio, agora, era só esperar. Ele tinha certeza do sucesso, pois era pioneiro do negócio na cidade e expert no assunto.Logo apareceu interessados em saber como funcionava o negócio de corretagem pois eram leigos no assunto. Depois das primeiras experiências e como os negócios deram bom resultado – a afluência de clientes aumentou – ele passou então a anunciar nas rádios e jornais de cidades vizinhas.Fazendeiros de toda região passaram a ser seus clientes. Ele pôs a se corresponder com matadouros e frigoríficos de S. Paulo, Rio, Campinas e de várias cidades de grande porte. Na cidade de Barretos, angariou simpatia e respeito na alta sociedade e dizia sentir-se como cidadão Barretense. Foi quando recebeu convite para se associar ao Tênis Clube de Barretos, o que ele prontamente aceitou dizendo que era uma honra. No dia que foi formalizar o ingresso no clube veio a baila um assunto do qual ele não havia comentado, sua origem, formação e a família, pormenor que não o preocupava.

Ele era de Campos, Estado do Rio de Janeiro, era formado em advocacia tributária – função que exerceu por pouco tempo, pois descobriu que sua vocação era o campo –, trabalhou com o pai que era cafeicultor, mas sua paixão era a pecuária. Por isso viajou para a Austrália para aprender o que pudesse sobre criação de gado e também sobre corretagem em grande escala, no que a Austrália era pioneira.Bastou um ano para ele saber de todos os meandros da atividade e adquirir prática no campo. Agora, ali estava com seu negócio a pleno vapor. Mas sua ambição ia além, seu objetivo era ele mesmo ser criador e implantar a criação de gado confinado, sistema que abriria comércio para o exterior, principalmente, para a Europa. Com o tempo passou a freqüentar a nata da sociedade e foi num desses eventos que conheceu a jovem filha única do maior criador de gado da região, homem que apesar de não ter cargo, comandava todos os acontecimentos políticos de Barretos e região.

Depois de alguns encontros iniciou entre eles um namoro que foi aprovado pela família da moça, pois viam naquele rapaz um futuro brilhante. Ela não era um exemplo de beleza mas compensava com seu comportamento independente e ativo em relação aos negócios do pai, a mulher ideal para quem tinha ambição. Depois de algum tempo, ele confidenciou ao pai dela que estavam planejando o casamento, com seu consentimento, é claro, e para isso havia pleiteado um empréstimo no Banco do Brasil, local pois pretendia iniciar seu próprio negócio. Estava só esperando a resposta do banco.O pai concordou com seus planos. À noite, em casa, reunido com os dois irmãos, o pai conversou sobre o assunto e com a anuência deles soube qual providência tomar.

Na manhã seguinte, dirigiu-se ao banco e numa reunião com o gerente deu aval ao empréstimo. Quando o rapaz soube, procurou o futuro sogro agradeceu dizendo:

- Agora vou por a mão na massa.

Por intermédio do banco, soube de uma fazenda de porte médio que estava sob hipoteca e à venda. Era ideal para seu propósito. Convidou o futuro sogro par conhecer a propriedade, pois queria sua opinião de homem experiente no ramo. Eles foram ao local e depois de percorrerem a fazenda, aprovou e disse.

- O que faltou aqui foi uma boa administração. Na manhã seguinte, o rapaz foi até o banco e fechou o negócio.

À tarde apanhou a namorada e a levou para conhecer a fazenda, ela gostou do lugar e começaram a fazer planos do que iam fazer ali. O rapaz procurou um expert em projetar instalações para fazenda e foram até o local, depois de saber tudo o que queria, o empreiteiro passou tudo para a prancheta e também a reforma da casa que ia ser ocupada por um administrador, pois o casal ia residir na cidade.

Roberto, então, pediu ao empreiteiro uma previsão de tempo para as obras ficarem prontas. Depois de calcular tudo o que era necessário, pois seria uma obra fora do contexto – uma fazenda para criação de gado confinado – deu três meses. Depois de acertar com a namorada, marcaram o noivado para um mês e mais cinco para o casamento, além de um mês de lua de mel entre a Austrália e a Europa. Comunicaram a família que recebeu a noticia com satisfação. O rapaz, então, disse que ia providenciar a construção da casa para quando retornassem. O futuro sogro, então, disse que a casa ia ser seu presente.

- Vou convocar um projetista e com ele vocês vão escolher como querem a casa e depois vão escolher os móveis para quando chegarem tudo estar em ordem.

Depois de projetada, a planta foi para o construtora que prometeu a casa no prazo programado para o retorno do casal. No prazo combinado, a fazenda ficou pronta, eles ficaram noivos e na data marcada aconteceu o casamento. A festa foi realizada na casa do sogro com a presença dos pais do rapaz que estavam felizes e orgulhosos com o progresso do filho. Depois da festa, a viagem para São Paulo e o embarque para o exterior, nesse ínterim em Barretos a obra da casa estava a todo vapor, em fase de acabamento.Faltando quinze dias para o retorno do casal, a casa ficou pronta. Deram, então, o início à decoração. A sogra contratou uma firma para decorar a casa com os móveis e eletrodomésticos que o casal havia escolhido. A escolha de lustres cortinas e outros adereços ficou a critério da sogra, assessorada pela decoradora.

No retorno do casal, houve uma festa de recepção, organizada pelos amigos e parentes, e nos dias vindouros começou avida nova.Na ausência do casal correu tudo normal no escritório, pois a secretária era muito competente e os contratos feitos já tinham sido adiantados por Roberto. A partir daí, além do escritório, ele começou a dar andamento no negócio a que havia se proposto, a esposa também se integrou no trabalho. E como ele havia pensado, dentro de pouco tempo o negócio passou a dar bons resultados.

Uma mudança profunda

Com o passar dos anos veio o crescimento, o aumento da área de produção, a construção de um matadouro e a instalação de um frigorífico moderno. A seguir os contratos para exportação de carne a granel, o sonho tornou-se realidade para júbilo do casal. Mas havia um fator que obstava a felicidade do casal, a mulher era infértil e não havia nada que a medicina pudesse fazer. Para compensar esta frustração ela se lançou no trabalho de maneira frenética e para complicar aconteceu o falecimento do pai, com um colapso fulminante. Este fato gerou uma mudança na esposa que passou a ter um comportamento irascível.Ela assumiu os negócios do pai, pois havia sido preparada para isso.

O tempo foi passando e o relacionamento do casal foi se desgastando, pois o trabalho da mulher virou obsessão e quando o marido tentava opinar ela dizia que ele já tinha seu negócio e ela era bastante competente para gerir o seu sozinha. O tempo passou e aconteceu o falecimento da sogra. Ele notou que a mulher não se abalou e que o ocorrido parecia um fato corriqueiro. E assim o tempo passava. Os negócios geridos por ela iam de vento em popa, ela havia assimilado o pai era uma grande administradora.

Era admirada e querida na cidade, além dos negócios, dirigia a associação das senhoras católicas que assistia doentes, idosos, pobres e crianças carentes, com quem era muito amável, mas no convívio com o marido tornou-se intratável. O casamento na intimidade havia falido, a relação com o marido era só para manter as aparências. Certa ocasião, ele mencionou a possibilidade do divórcio. A mulher explodiu dizendo que se ele mencionasse isso outra vez ela o mataria, revelando uma agressividade que até o momento ele desconhecia.Como o negócio de gado confinado progrediu. Roberto contratou um jovem, recém formado em engenharia pecuária para assessorá-lo no escritório, e passou ser mais assíduo na fazenda.

Os anos passaram, ele com 52 anos ela 47. A vida do casal era apática, a não ser nos negócios, pois ambos continuavam com a mesma disposição de outrora. E foi nesse clima que ele teve o encontro com aquela mulher que abalou seu emocional.Depois de muito pensar, resolveu ter com ela um contato telefônico. Ligou, então, para a chácara se identificou e questionou um possível encontro. Ela concordou e combinaram o encontro no restaurante do posto, pois por motivos óbvios ele não podia se expor na cidade e ela, mulher experiente, não pôs obstáculos. Do restaurante foram para uma cidade a 40 quilômetros, onde em um hotel tiveram uma aventura amorosa. Depois da primeira, tiveram várias outras.

Ele generoso com presentes e dinheiro e ela com seu corpo e sua beleza. Mas havia um porém. Essas mulheres não ficam muito tempo em uma cidade. Quando comunicou que ia partir, teve uma surpresa, pois ele declarou que estava apaixonado e propôs montar uma casa para ela em uma cidade próxima para que ele pudesse visitá-la e, em contra partida, proporcionaria tudo que ela precisasse, inclusive, um carro. Ela teria toda a liberdade que quisesse, menos com outros homens, claro.

Ela refletiu e pediu um tempo para pensar, pois era um passo muito sério e ela não queria ser magoada e nem magoar ninguém. Ela combinou que iria passar um tempo na casa de parentes no litoral, que não sabiam de sua atividade. Deixou o endereço de uma casa da cidade de Viradouro e em um mês estaria lá . Durante sua estada no litoral refletiu sobre os prós e contras de uma resposta positiva e na possibilidade de deixar aquela vida, tinha planos para o futuro mas ainda não estava preparada financeiramente para iniciar outra vida. Sabia que um dia teria que tomar uma decisão, agora, seria um risco, mas resolveu enfrentar, sabia que homem casado era um problema, mas ele inspirava confiança. A resposta seria sim.

Na data marcada, os dois se encontraram no local combinado. Depois do acerto de ambas as partes passaram a por em prática os planos para o futuro, em um mês ajustaram tudo, uma casa em Pitangueiras, cidade a quarenta quilômetros, um carro e tudo mais que fosse necessário para uma casa.Nos dias que se seguiram sempre que podia ia visitá-la e ficou patente que ele estava apaixonado e quando viajava para as cidades grandes dava um jeito de levá-la junto. Com a felicidade fora, o clima em casa se tornava cada dia mais insuportável, mas uma separação estava fora de questão, ele havia criado raízes na cidade e um escândalo seria desastroso, pois tudo que ele construiu estava ali, isto o atormentava.

Foi nessa época que houve a necessidade de uma pintura na sua casa. Para isso ele contratou o melhor pintor da cidade que com uma equipe ia executar o serviço, era o mesmo pintor que trabalhou durante a construção. Mas para que o serviço fosse executado, o casal se hospedou em um hotel para não ter o desconforto de uma casa em reforma. Durante a execução do serviço Roberto ia até a casa para ver o que estava sendo feito e trocava opinião com o pintor que era um sujeito afável e bem falante. Foi numa dessas idas que o pintor avisou que precisava se ausentar durante três dias, pois precisava levar seu filho de dez anos a São Paulo pois estava fazendo tratamento no Hospital das Clínicas de uma doença rara.

O pessoal que ia ficar trabalhando era competente e dariam conta, sem atrasar o serviço afinal era só três dias. Roberto ficou curioso e perguntou por que as Clínicas e não outro hospital.

- O hospital é publico e tem o recurso para o tratamento”, respondeu o pintor.
- A cada dois meses tenho que levar ele para exames e isso está minando minhas economias, tenho planos de mudar para São Paulo, pois como profissional que sou não terei dificuldades para me adaptar e facilitaria o tratamento. Pus minha casa à venda, mas a oferta máxima que consegui foi 50 por cento do valor.

E num desabafo de desatino disse que estava disposto a fazer qualquer coisa para resolver a situação, até matar se preciso. E com esse desabafo encerrou-se aquele diálogo, o comentário não agradou nada ao dono da casa. Depois do serviço pronto, o casal voltou para casa e tudo voltou à rotina, a não ser pelas discussões, pois as saídas do marido, embora a vida conjugal já não existisse, irritava a mulher que não poupava cenas de histeria. Ele já não encontrava mais desculpas para suas saídas.

Foi após um destes entreveros que começou a brotar em sua mente um plano sinistro. Com o argumento de um serviço na fazenda que ele procurou o pintor, que se prontificou a ir a sede para fazer um orçamento. Durante o trajeto ele perguntou sobre como ia o garoto e se havia resolvido o problema da venda da casa. O pintor respondeu que estava tudo pendente a espera de um comprador pelo preço justo e que, com a demora, seu problema estava aumentando. Quando chegaram à entrada da fazenda ele passou direto, a dois quilômetros parou em um posto-restaurante, encostou o carro e convidou o pintor para descer, pois queria falar com ele. Entraram, ele procurou uma mesa afastada e pediu duas água minerais.

- É o seguinte, o que vou falar com você concorde ou não, não deve sair daqui”, disse e esperou pela reação do outro.

Ele ficou olhando sem nada entender e respondeu:

- Está bem pode falar.
- Lembra quando desabafou e disse que estava disposto a tudo, até matar se preciso fosse para resolver seu problema?, parou e ficou esperando pela reação do outro. O pintor ficou olhando para ele sem nada dizer, que continuou:
- Se está disposto, tenho a solução para seu problema. Preciso que você mate alguém, para isso pago a quantia para você ir para São Paulo comprar uma casa e durante algum tempo se manter sem trabalhar. Dou tempo para você pensar desde que não seja muito e lembre-se se esta conversa sair daqui, nego tudo e ninguém vai acreditar em você.

Levantou-se e convido o pintor a ir embora. Saíram, entraram no carro e partiram. No trajeto de volta não trocaram uma palavra. Ao deixá-lo na cidade disse:- Quando resolver o que fazer, sim ou não entre em contato. Passada uma semana, ao sair de casa e virar uma esquina Roberto viu o pintor de bicicleta que discretamente acenou para ele e apontou para a saída da cidade, ele dirigiu um quilômetro, parou o carro e esperou. Logo o pintor chegou e disse vá até a represa que vou até lá pra conversar.

Ele dirigiu até a represa e esperou, pouco tempo depois chegou o pintor, ele encostou a bicicleta ao lado do carro e disse, marque um lugar e hora para gente combinar, eu topo fazer o serviço. Roberto então marcou hora data e local, ligou o carro e foi embora. No dia marcado, à noite, os dois se encontraram na saída da cidade e colocaram a bicicleta no porta-malas. Pegaram a estrada e foram até um posto-restaurante onde Roberto estacionou o carro e entraram, sentaram em um lugar afastado e pediram uma bebida.O rapaz tirou do bolso uma caderneta e fingiu estar anotando alguma coisa enquanto conversavam. Ele, então, explicou que a pessoa em questão era sua esposa.

- Não vou entrar em detalhes, pois quanto menos você souber melhor. Já planejei tudo e vou explicar como deve ser feito. Toda sexta feira ela participa da reunião das senhoras católicas. Sai de casa às oito horas e volta entre dez e meia e onze horas. Você vai ficar na espreita, quando ela sair você entra na casa, vou lhe dar as chaves do portão e da porta. Depois que entrar feche o portão e a porta não se esqueça de passar a chave. Não acenda as luzes, vou lhe dar uma lanterna de facho direto, para a claridade não se espalhar, não vai ser difícil, pois você conhece a casa. Se quiser espere um tempo na sala para relaxar, pois quando ela chegar você vai ouvir o barulho do portão e do carro. A seguir entre no quarto de hóspedes e se esconda embaixo da cama, pois ela é alta e tem espaço para uma pessoa. A colcha vai cobrir a visão se ela entrar no quarto, mas isto nunca acontece. Fique atento pois entre tomar banho e se vestir para dormir ela gasta meia hora.
Depois que ela apagar as luzes, espere algum tempo, ela dorme rápido e tem o sono pesado, sei por que testei várias vezes. A seguir você sai debaixo da cama e acende a lanterna, proteja o facho de luz com a mão e entra no quarto, bem de perto dê um tiro na cabeça e descubra o corpo até a altura da cintura e acenda o abajur para parecer que ela acordou durante o roubo e foi baleada, dê outro tiro no peito para confirmar. A seguir, vá até o quarto de vestir que você conhece, abra várias gavetas e espalhe o conteúdo pelo chão. Na gaveta da penteadeira tem um estojo de jóias, deixe-o aberto e leve as jóias. Depois eu apanho. Você estará usando luvas o tempo todo desde o portão. Ao sair não feche a porta com a chave, mas o portão sim, vão pensar que pularam o muro e que ela esqueceu de passar a chave na porta. Também vou trazer um pé de cabra para confundi-los. Quando entrar na casa deixe-o perto da porta e só para confundir não o use.Antes de sair na rua, observe se não tem ninguém à vista, vá até a represa jogue o revólver e as chaves na água, bem longe da margem, onde é bastante fundo. Vá para sua casa e aguarde, dentro de uma semana entro em contato para fazer o acerto.

Este contato foi feito na terça-feira, o serviço seria feito na sexta. Na quarta-feira à noite o pintor recebeu a arma, chaves luvas e o pé de cabra. Na quinta-feira pela manhã Roberto viajou para São Paulo, pois tinha contratos para formalizar e só voltaria no sábado à tarde de táxi aéreo. Os contratos eram reais, pois ele havia planejado tudo. No sábado às 16 horas o monomotor deslizou pela pista do aeroporto.Roberto desceu do avião, o carregador apanhou a mala e foram para o corredor de saída.

Quando entrou no saguão deparou com o delegado e dois investigadores. O delegado se adiantou e deu voz de prisão, ele tentou esboçar uma reação, mas quando olhou para fora do aeroporto viu o carro da mulher e ela no volante. Aí desmoronou, foi algemado e levado para o camburão.O que aconteceuO pintor fez uma parte do que foi planejado só que para ter coragem se embebedou antes de ir para a casa e como havia dormido mal na noite anterior, devido a tensão, adormeceu embaixo da cama. Ele deve ter se mexido, pois deixou um pé à mostra e quando a mulher chegou, ao passar em frente do quarto viu o pé. Ela foi até a casa vizinha e chamou a polícia.

Epílogo: Casamento quando errado agüente calado, ou vá viver vendo o sol nascer quadrado.

domingo, 13 de maio de 2007

O garoto. O Zé botinha e o Chico Guarda.


:: Imagem tirada di site: www.eseguranca.com.br/pes.htm

O s personagens dos fatos que seguem não tinham nada em comum a não ser morarem na mesma cidade.

O Garoto.

Marcos um garoto de oito anos, o mais velho de uma prole de quatro filhos, de um casal que vivia no limite da pobreza. A mãe uma mulher apática que lavava e passava roupa ganhando algum dinheiro para manter uma precária subsistência. O pai apesar de um ótimo profissional não era muito afeito ao trabalho passava mais tempo pescando e jogando baralho, bilhar, bocha, enfim, qualquer jogo.
O garoto ajudava no provento vendendo ovos de uma chácara de porta em porta de manhã e à tarde ia para a escola, aos sábados engraxava sapatos nas residências onde ele tinha uma boa freguesia, pois era muito caprichoso.
Aos domingos vestia sua melhor roupa, calçava uma alpargata que ele detestava - era um sapato feito de lona com sola de corda que era fabricada pela empresa têxtil Alpargatas - o sapato só tinha um padrão de cor, um marrom desbotado, uma coisa horrorosa paupérrima, e lá ia ele pra missa.
Mas ele tinha um sonho ter uma botina igual a que ele engraxava toda semana, a do filho de um freguês, para isso ele sempre desviava uma moeda que guardava em um cofre feito com uma lata de talco vazia que ele mantinha bem escondido.

O Zé Botinha

Era um boa praça oriundo do norte do Brasil das bandas do Pará.
Era caminhoneiro, mas como ele dizia já tinha trabalhado no garimpo em sua terra natal, Zé Botinha porque usava uma bota cano curto que estava sempre tinindo, brilhava como um espelho.
Ele trabalhava como motorista em uma beneficiadora de arroz, onde era muito bem quisto, pois além de pontual cuidava do caminhão como se fosse seu, sempre limpo e brilhando como novo.
Ele transportava arroz de Barretos para Goiás e vice-versa. Apesar de contente com a vida que levava, pois além de ser bem quisto ganhava bem, já que na época havia poucos motoristas, morava em casa própria, tinha dois ótimos filhos de onze e nove anos e uma esposa prendada e bonita. Enfim, era um homem feliz.
Mas ele tinha um sonho que alardeava quando estava reunido com os amigos na bodega do seu Joaquim , entre um copo e outro de cerveja ele exibia uma caderneta da Caixa Econômica e dizia “Meu futuro está aqui. Estou juntando um dinheiro e quando tiver o necessário para comprar o equipamento vou para o garimpo, e quando voltar vou ter o meu próprio caminhão. Comprar um sitio e criar porco inglês e só usar botinha sob medida do Gallat”, que era uma sapataria e selaria que só trabalhava por encomenda para burguês devido o preço .
Chico Guarda. A doença.

Seu Chico como era conhecido nasceu na cidade de Ribeirão Preto e quando jovem aprendeu a profissão de ourives na qual trabalhou um bom tempo até que a família foi para Barretos, onde ele teve dificuldade para de arrumar trabalho, pois a cidade era bem pequena.
A família não tinha dificuldades, pois ele era filho único e a mãe teve problemas no parto e não podia gerar mais. O pai era encarregado no Frigorífico Anglo e morava em uma casa de propriedade da empresa e pagava um aluguel simbólico. A mãe era costureira, e viviam uma vida financeira confortável.
O rapaz fazia um bico aqui outro ali até que chegou a idade do serviço militar, se alistou e foi fazer o tiro de guerra - nome dado ao serviço militar em pequenas cidades. O tempo passou, o final do serviço militar estava próximo e o problema de trabalho ressurgiu. Ele pensou, repensou e não teve dúvidas, se alistou na força pública. Fez os exames necessários e foi aprovado. Foi então encaminhado para Ribeirão Preto para o treinamento. Tempos depois voltou apto para exercer sua função.
Aos vinte e dois anos casou e tiveram dois filhos Carlos e Roberto. Durante o tempo que exerceu seu trabalho, o fez muito bem. Angariou muitos amigos principalmente crianças que o chamavam carinhosamente de seu guarda. Ele morava em uma casa que comprou com a ajuda dos pais no limite da cidade em um terreno bem grande onde as crianças brincavam com seus filhos, e desfrutavam das frutas do pomar que ali havia.
O tempo passou. Vamos encontrá-lo com quarenta e dois anos quando uma doença se abateu sobre o homem que era um exemplo para a comunidade e, principalmente, para as crianças, pois embora o tempo tenha passado ele mantinha o mesmo carinho com elas.
Suas pernas começaram a doer e a inchar, Consultou um médico que constatou um tipo grave de diabete. O diagnóstico: fazer um tratamento com medicamentos, uma rigorosa dieta, dentro de pouco tempo fazer uso de uma cadeira de rodas e, quem sabe, no futuro uma possível amputação.
Ele compreendeu a situação, não esmoreceu e resolveu fazer sua própria cadeira e para montar a cadeira saiu a campo. Conseguiu uma sucata aqui outra ali serrava parafusava, e quando precisava soldar alguma peça contava com um amigo que era serralheiro que o ajudava na soldagem.
Quando já estava montada lixada e pintada, comprou um par de rodas numa bicicletaria e
acabou de montar. Algum tempo depois, a doença se agravou e uma perícia médica o aposentou em definitivo.
Ele então montou uma pequena oficina e passou a praticar a profissão de ourives na própria casa. Eram pequenos serviços mais para passar o tempo. Com o agravamento da doença e o inchaço das pernas e, não podendo mais se manter em pé, passou a usar a cadeira de rodas definitivamente.
Passados três anos, já totalmente adaptado com a situação, estava praticando sua profissão em uma escala maior. Os filhos passaram a viajar comprando ouro e prata, um vinha para São Paulo o outro para cidades de maior porte do interior. E de porta em porta compravam o material. Eram pedaços de ouro, correntinhas, feichos, ouro velho, enfim, qualquer tipo de ouro e prata . O pai derretia o material e fazia aliança, correntes, broches e anéis que vendia na cidade.
Fazia também consertos para os moradores e para a joalheria da cidade.
Com o passar do tempo passou a comprar e vender objetos usados. Comprava e vendia de tudo, com o tempo o negócio prosperou, ia tudo de vento em popa. Um detalhe: o Chico era freguês do Marcos. Comprava ovos e engraxava as botas, agora com a doença só comprava ovos. Admirava o esforço do garoto para ajudar a mãe, pois sabia que o pai era um irresponsável e sempre estimulava ele, para que não desanimasse.

O garimpo. A viagem. A volta. O desastre.

O ourives. O ouro e a Botina. .

Numa tarde de sábado ele chegou na bodega e pediu a seu Joaquim “Ponha cerveja no balcão e abra uma garrafa de Pirassununga que hoje to pagando”. Vrou pro salão e falou “Pessoal chegou o dia. Vamos beber à saúde de todos, porque na segunda-feira to indo pro garimpo”. O pessoal ficou atônito pela surpresa, mas cada um pegou um copo e rapidamente a cerveja e pinga acabaram. “Repete a dose” disse o Zé. Seu Joaquim serviu e ainda surpreso perguntou “E a família e a casa como é que fica”. “Fica” respondeu, “A família, a casa, fica tudo como está, vou eu e Deus. Já provi a mulher por uns meses e não vai faltar nada, se o dinheiro acabar mando mais. Tenho fé em Deus. Acertei com o patrão ele não queria que eu fosse, mas não arredei o pé. Ele até me prometeu emprego se não der certo”.
Na segunda-feira o Botinha subiu na jardineira (ônibus) e partiu deixando a mulher e os filhos chorando e os amigos tristes pois ele era muito querido.
Durante três anos noticias só por carta e pelo dinheiro que ele mandava pra mulher.
Após esse tempo, eis que num sábado um caminhão Ford reluzente novinho, pára em frente da bodega e dele desce queimado como azeviche, pelo sol do norte. O Zé Botinha.
Saudou a todos que estavam ali e deu um grande sorriso que reluziu como o sol, pois ele havia colocado oito jaquetas nos dentes da frente.
Depois de brindar e festejar com os amigos despediu-se e foi para casa, e disse alguém “Ele encontrou seu eldorado”.
Depois vários dias comemorando e fazendo compras para a família, ele começou a por em prática o sonho que tanto acalentou. Deu uma bela reforma na casa, comprou um sítio e iniciou a criação de porcos, mas não esqueceu das sonhadas botas do Gallat do qual passou a ser cliente, botas para si e botinas para os filhos feitas com a melhor pelica da Argentina.
Em três anos passou a ser um dos maiores fornecedores de porcos para o Frigorífico Anglo, enfim, o homem venceu estava rico.
Mas o que ele não imaginava era que uma desgraça se avizinhava de maneira inexorável.
Em uma tarde ao voltar do sítio parou o caminhão em uma vendinha que havia a uns cem metros de uma passagem de nível de trem nos arredores da cidade, ficou por ali durante um tempo bebeu e conversou com os amigos, e já escurecendo se despediu entrou no caminhão e partiu para casa, mas quando chegou na passagem de nível da ferrovia ao mudar a marcha deixou o motor morrer. Tentando ligar o motor, e por estar em uma curva ladeada por um barranco, não viu o trem que o pegou em cheio e o arrastou por uns cem metros destroçando tudo.
O maquinista não pode frear de sopetão pois o trem estava com vários vagões lotados de bois que ia para o Frigorífico. Estranhamente, embora o maquinista afirmasse o contrário, o pessoal que estava na venda disseram que não ouviram o apito do trem, o que era obrigado em toda passagem de nível para alertar algum passante.
Após o acidente, foi uma correria geral, logo chegaram funcionários da Ferrovia os bombeiros da cidade que ficava a dois quilômetros e que providenciaram sacos de lona para recolher os restos do corpo que ficou estraçalhado.
Como havia escurecido, bombeiros ficaram de plantão para evitar que animais devorassem partes do corpo, pois não foi possível recolher tudo.
Na manhã seguinte muitos curiosos foram até o local para ver o desastre, entre elas, o garoto Marcos. Andando por ali o garoto notou algo brilhando no meio de uma moita de capim, abriu a moita e viu uma arcaria dentária e com vestígio de sangue, e brilhando oito dentes de ouro. Apanhou aquele resto macabro enrolou em um pedaço de saco de cimento que apanhou ali perto e foi para casa.
Lá chegando abriu espaço em um pilha de tijolos que havia no quintal colocou o pacote e fechou o buraco sem que ninguém visse.
Alguns dias depois do acidente, ao chegar em casa viu sua mãe com um regador jogando água com creolina no quintal. Dizendo que tinha um cheiro de carniça por ali. Ele disfarçando chegou onde havia escondido pacote e sentiu que o cheiro vinha dali. Pediu então o regador e disse deixe-me ajudar e sem que ela percebesse jogou a água sobre o local que amenizou o cheiro e pensou “Tenho que tirar o pacote daqui”, o que não seria difícil, pois o pai estava pescando em Mato Grosso e era quando ele tinha um pouco mais de liberdade.
No dia seguinte, retirou o pacote que já estava cheirando mal enrolou em um pedaço de trapo pegou a cesta onde carregava os ovos e antes de ir para a chácara dirigiu-se para os fundos do recinto onde faziam a Exposição de gado. Procurou um lugar ermo pegou o embrulho colocou dentro de uma lata de leite em pó vazia, tampou e com uma colher cavou um buraco colocou a lata e cobriu com terra e pedras e foi apanhar os ovos.
Passado um mês da tragédia, as coisas na casa do Zé Botinha se acomodaram. A mulher contratou um capataz para o sítio. Homem que entendia do negócio e pôs tudo para funcionar.
Foi nesse período que começou a pensar no que fazer com seu achado, embora já tivesse uma idéia. Em dois meses ele mudou a lata de lugar várias vezes até que tomou coragem e pôs em prática seu plano.
Foi até a casa do Chico e depois de sondar, perguntou se ele comprava dente de ouro, a princípio ele ficou ressabiado pensou e respondeu que comprava qualquer tipo de ouro desde que não seja roubado, “Você sabe quem tem?”
“Olha seu Chico outro dia eu estava caçando passarinho perto da linha e achei um pedaço de osso com dente de ouro”, ele sabia que era ouro, pois engraxava as botas do finado Zé. Chico ficou curioso, pois sabia que não havia sido encontradas as mandíbulas do Zé e perguntou, quantos dentes são, oito respondeu o garoto.
O Chico coçou o queixo pensou e perguntou se alguém mais sabia, “Não, eu não contei pra ninguém. Achei e escondi”. “Ok” disse o Chico este vai ser o nosso segredo.
Ele pensou e disse “Vamos fazer o seguinte: vou lhe dar um alicate e você vai tentar arrancar os dentes, se conseguir jogue o que restar no pimpão (e um riacho) se não conseguir traga aqui que eu arranco”.
O garoto fez como ele pediu e levou os dentes para ele ver. O Chico retirou as jaquetas testou pesou e esclareceu o quanto tinha que pagar ao garoto. Ele disse que não queria dinheiro e sim que ele comprasse uma botina do Gallat pra ele.
O Chico então explicou que comprar no Gallat ia ser problema, pois além de ter que esperar a encomenda teria que explicar a compra de uma botina sob medida, Marcos concordou, Chico teve uma idéia “Vou pedir ao meu filho para ir com você na selaria Gaúcha e comprar uma botina pra você. Lá tem e são muito boas se estiver de acordo, você vai e escolhe, vai sobrar dinheiro, se não quiser levar eu guardo e quando você quiser vem aqui e eu lhe dou”. “Negócio fechado”, disse o garoto.
“Vocês trazem a botina para aqui e você peça a sua mãe para vir aqui que quero falar com ela”. Quando ela vier direi que estou lhe dando de presente, mas vamos fazer isto logo aproveitando que seu pai esta pescando. “Para ela não ficar curiosa direi que você tem feito uns favores, dado uns recados e até ido à cidade para mim, enquanto entregava os ovos”. Assim ficou combinado, foi feito e deu tudo certo. No sábado Marcos não conseguia disfarçar a ansiedade para que chegasse logo o domingo, a noite foi longa. Quando o dia raiou ele levantou, se lavou, pôs a melhor roupa, calçou as botinas, esqueceu até o café e lá foi saltitante para a missa. Era a primeira vez que usava um calçado de couro.Chegando na Igreja entrou se benzeu, ajoelhou e de mãos postas como bom cristão olhou para cima e fez uma prece para o Zé Botinha.