domingo, 25 de março de 2007

Um baque na escuridão


Ali estava eu na sala de espera do Hospital ouvindo dois indivíduos. Um dizia que já havia visto o diabo de várias formas, outro que havia visto assombrações blá, blá, blá, blá. Havia se passado dez minutos quando chamaram meu nome entrei em uma saleta, medi a pressão e logo a seguir entrei na sala do médico que estava com minha ficha na mão.
Ele me olhou e perguntou o que havia, respondi que tive um mal-estar e por prevenção vim atá o Hospital. Ele mandou que eu tirasse a camisa e deitasse na maca o que fiz, ele apalpou meu abdômen verificou minhas pálpebras e disse que estava tudo bem, o que eu estava sentindo era a reação do novo medicamento que estava tomando. Logo a seguir perguntou se eu estava de carro e acompanhado, com minha afirmativa perguntou se minha companhia dirigia, eu disse que sim.

Então vou lhe dar um sedativo, pois você esta muito tenso. Terminada a consulta pegamos o carro e fomos para casa. Durante o trajeto apossou-de mim uma lassidão gostosa. Era como se meu corpo estivesse no carro e minha consciência vagasse pelo espaço, lembranças do passado desfilavam na minha frente, podia quase tocá-las. Elas se misturavam na minha mente como um torvelinho sob a influência do sedativo. Lembrei do tempo de criança quando furtava peixes no covo dos pescadores para arrumar um dinheiro, quando fui para São Paulo e dormia no meio dos eucaliptos pois sem carteira assinada nada de pensão, foi quando surgiu meu pé de coelho de nome Helião, que me deu um empurrão para dentro da Phillips. Aí começou a vida nova.

Pensão ah! Como era boa a pensão da Rua Eurice, e tinha a famosa lingüiça de varal, com a qual eu me deliciava depois de uma pescaria noturna. Ali conheci verdadeiras figuras que de certa me agradavam. Lembro-me do pau-de-sebo que, com trapaça, eu conseguia abocanhar o prêmio. Mas a ocasião especial era o fim de semana em que a cambada toda se reunia para saborear a carne assada na pensão do Eduardo. A gente comia, e uma porção extra repetia, pois igual aquela nunca comi.

Mas teve um fim de semana que quase termina tudo em indigestão, pois havia dois indivíduos que iam juntos almoçar no lugar, um deles com uma pasta - se intitulava corretor de terrenos para se construir chácaras. Foi quando ele ofereceu para os comensais tentando efetuar vendas. Eu sem pestanejar fiz um comentário desdenhoso dizendo que ali não era lugar para vender chácaras, pois éramos todos operários, não se usava a expressão “peão”. O cara ficou louco e só não partiu para as vias de fato porque o amigo dele colocou panos frios – ufa! Passado algum tempo ficamos amigos, ele sabia o que estava fazendo, pois os donos de pequenas chácaras hoje, foram operários no passado.

De repente comecei a sentir que o efeito do sedativo estava bem fraco e começava uma chuva fina e como era de noite e a estrada vazia, pedi a minha acompanhante para parar o carro e tomei o volante. Comecei a dirigir e o pensamento voltou para os dois homens do hospital, assombração, Diabo, não que eu tenha alguma coisa contra - até gostaria que ele existisse pois eu teria muita coisa em comum com ele - foi quando eu senti um baque de frente e um vulto horrível bateu no pára-brisa e se espatifou. Aquela visão pareceu-me o diabo em forma de um animal horrendo. Perdi o controle do carro e cai numa valeta, depois de alguns minutos tentei movimentar o carro mas as rodas estavam presas. Após verificar que estávamos bem que havia sido só o susto fiquei atento para um possível socorro. Depois de algum tempo um carro parou ao nosso lado e o motorista perguntou se precisávamos de algo, pedi a ele que avisasse o guincho que havia em um posto logo adiante, omiti o atropelamento.

Após algum tempo chegou o guincho, enquanto o motorista se preparava para guinchar o carro pedi a ele uma lanterna e me dirigi para o lugar da batida. Estava tenso, triste, amargurado, pensando na possibilidade de ter matado o diabo, Lúcifer, o anjo negro, que influenciou tantos homens bons como: Mengele, Nero, Calígula, Hitler, e muitos outros. Quando estava próximo vi um vulto estirado, morto, arrebentado, ao aproximar a luz qual foi minha alegria e satisfação, o que eu havia matado era um enorme cão, pastor-alemão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pai, suas histórias são demais! Continue com essa disposição para criar e escrever, nós internautas da família agradecemos!
Ah, eu tenho mesmo a quem puxar! rsrsrsrs