sexta-feira, 30 de março de 2007

O Nariz Fatídico




Numa briga de bar o Pita levou um golpe de facão que decepou seu nariz. Pessoas que estavam presentes logo o socorreram, estancaram o sangue e apanharam a ponta do nariz que estava no chão, colocaram em um copo e cobriram com gelo. Colocaram o Pita em um carro e partiram para um hospital que ficava próximo.


Lá chegando foi prontamente atendido e encaminhado para a sala de cirurgia, O médico depois de examiná-lo viu que havia a possibilidade de implantar o nariz. Como não era uma operação complexa o cirurgião chefe encarregou um jovem residente para realizar a cirurgia. Quando o jovem médico descobriu o rosto do paciente, um misto de raiva e satisfação tomou conta dele.


O motivo: Voltemos no tempo, há um mês atrás quando o médico foi buscar sua noiva na escola de enfermagem na qual ela dava aulas, ao encostar o carro no meio fio deu uma pequena raspada em um carro que estava estacionado em frente a uma oficina mecânica.


Avisado, o mecânico saiu do prédio bufando de raiva gritando impropérios de todo tipo. O rapaz pediu calma, que ele arcaria com o prejuízo. Calculado o dano, o rapaz deu-lhe um cheque e ficou tudo resolvido, foi quando a moça saiu da escola e quis saber o que havia acontecido, o rapaz explicou pegou-a pelo braço e foram para o carro.


O mecânico olhou para a moça fez um gracejo grosseiro digno de um cafajeste, eles entraram no carro, ele deu partida e foram embora. Em outras ocasiões o mecânico se insinuou com gracinhas para a moça, até que o segurança da escola lhe chamou a atenção e a coisa parou por ai.


Mas a raiva ficou impregnada no médico pelo vexame que passou. Agora, ali estava seu algoz indefeso a sua mercê. Sua raiva aflorou como um jato de petróleo rasgando as entranhas da terra, ignorou o juramento de Hipócrates e as conseqüências, e se pôs a operar.

Após operar e enfaixar o paciente, o médico mandou que o levassem para o aposento de repouso. Depois de dias na recuperação chegou à hora de tirar o curativo, o médico olhou bem de perto o paciente que demorou, mas o reconheceu. Então, pegou um espelho colocou na frente do paciente, que com um olhar horrorizado emitiu um grito terrível que encheu o médico de alegria.


O nariz havia sido implantado de cabeça para baixo, ou as fossas para cima. Resumo: Foi um verdadeiro tumulto no hospital, o paciente entrou em choque, o médico fugiu, o diretor foi chamado, virou um caos.


Depois que passou o choque o paciente foi sedado até que o problema fosse resolvido. Foi então marcada uma reunião para o dia seguinte para estudar a situação. Uma equipe foi reunida para resolver o que fazer. Após examinar o nariz chegaram à conclusão de que o quadro podia ser revertido, mas havia a necessidade de aguardar uns dias para evitar a necrose dos tecidos, e também tirar o paciente do estado de sedação.


Isto feito, explicaram a ele o ocorrido, o que ele entendeu, pois não havia outra saída. No terceiro dia o mecânico, que era um beberrão, sentia falta de tomar uns goles começou então a bolar um plano para dar uma saída para um bar que havia por perto. Durante o dia numa de suas idas ao banheiro adentrou em uma sala onde eram passadas roupas de enfermagem e apossou-se de um jaleco, colocou em baixo do pijama e voltou para seu quarto.


À noite, logo após a última passagem da enfermeira do dia, ele se levantou, vestiu o jaleco, se esgueirou pelo corredor, ganhou um pequeno jardim, saiu pelo corredor das ambulâncias e ao sair na rua dirigiu-se ao bar que ficava aberto até meia noite, comprou uma garrafa de conhaque e fez o mesmo caminho na volta; procurou no jardim um lugar mais escuro para não ser visto, em um canto do muro sentou no chão, abriu o litro e se pôs a beber.


Devido seu estado de fraqueza acabou dormindo mesmo quando começou a chover copiosamente. Dentro do hospital corria tudo normal até que a enfermeira da noite, fazendo a ronda nos quartos, notou a falta do paciente. Ela deu o alarme e todos se puseram a procurar, até que alguém notou uma pessoa sentada no chão encostada no muro sem a máscara de proteção.


Logo as pessoas o tiraram dali e o colocaram sob a marquise protegido da chuva. A seguir chamaram um médico que chegou logo e pôs a examinar o paciente que estava em estado de choque. Massageou o tórax, fez outras tentativas e não resolveu nada. Virou-se para as pessoas ao lado e disse que era tarde demais, ele estava morto.


Resultado da autopsia: Morte por afogamento. O jovem médico estava vingado.

Epílogo:
Desta vez o castigo não veio a Cavalo. Veio com o nariz virado e dono morreu afogado.

domingo, 25 de março de 2007

Um baque na escuridão


Ali estava eu na sala de espera do Hospital ouvindo dois indivíduos. Um dizia que já havia visto o diabo de várias formas, outro que havia visto assombrações blá, blá, blá, blá. Havia se passado dez minutos quando chamaram meu nome entrei em uma saleta, medi a pressão e logo a seguir entrei na sala do médico que estava com minha ficha na mão.
Ele me olhou e perguntou o que havia, respondi que tive um mal-estar e por prevenção vim atá o Hospital. Ele mandou que eu tirasse a camisa e deitasse na maca o que fiz, ele apalpou meu abdômen verificou minhas pálpebras e disse que estava tudo bem, o que eu estava sentindo era a reação do novo medicamento que estava tomando. Logo a seguir perguntou se eu estava de carro e acompanhado, com minha afirmativa perguntou se minha companhia dirigia, eu disse que sim.

Então vou lhe dar um sedativo, pois você esta muito tenso. Terminada a consulta pegamos o carro e fomos para casa. Durante o trajeto apossou-de mim uma lassidão gostosa. Era como se meu corpo estivesse no carro e minha consciência vagasse pelo espaço, lembranças do passado desfilavam na minha frente, podia quase tocá-las. Elas se misturavam na minha mente como um torvelinho sob a influência do sedativo. Lembrei do tempo de criança quando furtava peixes no covo dos pescadores para arrumar um dinheiro, quando fui para São Paulo e dormia no meio dos eucaliptos pois sem carteira assinada nada de pensão, foi quando surgiu meu pé de coelho de nome Helião, que me deu um empurrão para dentro da Phillips. Aí começou a vida nova.

Pensão ah! Como era boa a pensão da Rua Eurice, e tinha a famosa lingüiça de varal, com a qual eu me deliciava depois de uma pescaria noturna. Ali conheci verdadeiras figuras que de certa me agradavam. Lembro-me do pau-de-sebo que, com trapaça, eu conseguia abocanhar o prêmio. Mas a ocasião especial era o fim de semana em que a cambada toda se reunia para saborear a carne assada na pensão do Eduardo. A gente comia, e uma porção extra repetia, pois igual aquela nunca comi.

Mas teve um fim de semana que quase termina tudo em indigestão, pois havia dois indivíduos que iam juntos almoçar no lugar, um deles com uma pasta - se intitulava corretor de terrenos para se construir chácaras. Foi quando ele ofereceu para os comensais tentando efetuar vendas. Eu sem pestanejar fiz um comentário desdenhoso dizendo que ali não era lugar para vender chácaras, pois éramos todos operários, não se usava a expressão “peão”. O cara ficou louco e só não partiu para as vias de fato porque o amigo dele colocou panos frios – ufa! Passado algum tempo ficamos amigos, ele sabia o que estava fazendo, pois os donos de pequenas chácaras hoje, foram operários no passado.

De repente comecei a sentir que o efeito do sedativo estava bem fraco e começava uma chuva fina e como era de noite e a estrada vazia, pedi a minha acompanhante para parar o carro e tomei o volante. Comecei a dirigir e o pensamento voltou para os dois homens do hospital, assombração, Diabo, não que eu tenha alguma coisa contra - até gostaria que ele existisse pois eu teria muita coisa em comum com ele - foi quando eu senti um baque de frente e um vulto horrível bateu no pára-brisa e se espatifou. Aquela visão pareceu-me o diabo em forma de um animal horrendo. Perdi o controle do carro e cai numa valeta, depois de alguns minutos tentei movimentar o carro mas as rodas estavam presas. Após verificar que estávamos bem que havia sido só o susto fiquei atento para um possível socorro. Depois de algum tempo um carro parou ao nosso lado e o motorista perguntou se precisávamos de algo, pedi a ele que avisasse o guincho que havia em um posto logo adiante, omiti o atropelamento.

Após algum tempo chegou o guincho, enquanto o motorista se preparava para guinchar o carro pedi a ele uma lanterna e me dirigi para o lugar da batida. Estava tenso, triste, amargurado, pensando na possibilidade de ter matado o diabo, Lúcifer, o anjo negro, que influenciou tantos homens bons como: Mengele, Nero, Calígula, Hitler, e muitos outros. Quando estava próximo vi um vulto estirado, morto, arrebentado, ao aproximar a luz qual foi minha alegria e satisfação, o que eu havia matado era um enorme cão, pastor-alemão.

Um sonho de liberdade



Caminhava por uma estrada deserta, no negrume da noite o som do silêncio fazia meu coração bater como o martelo na bigorna, a brisa da noite estava morna, mas eu sentia um calafrio que me dava tremor e que causava pavor, um pavor não sabia do que, pois sabia que estava sozinho, mas aquele medo não me abandonava não sabia aonde ir, mas não podia voltar nem parar, pois se parasse meu coração pararia também aí seria o fim. Tinha que caminhar, caminhar.

Quanto mais a bruma caia, mais escurecia e o som lúgubre da noite parecia o estalar de um chicote, eu sabia que era imaginação, mas por mais que tentasse ignorar o som do estalar do chicote ele varava a noite não me deixando pensar.

Ao longe ouvia o som de um pássaro noturno, um som angustiado anunciando algo que eu não queria saber, mas era o destino do qual eu não podia fugir, não agora. Embora a escuridão da noite fosse impenetrável ao olhar, eu caminhava a passos retos embora trôpegos. No céu não havia uma fresta de luar a escuridão reinava total. Uma coisa tinha certeza, logo os raios de sol surgiriam, os pássaros cortariam o céu e eu iria abraçar o mundo, a vida como nunca havia feito antes. De repente senti um gosto amargo na boca e acordei, abri os olhos e senti uma angústia, um aperto no coração, ali estava eu entre três paredes atrás das grades de uma prisão.